Prólogo
O
início de tudo
Bom Jesus, Rio Grande do Sul, junho de 1836
— Tens mesmo certeza disso meu amigo? - Sebastian Von Otman perguntou, fitando a caixa de metal nas mãos de seu companheiro.
— Absoluta certeza meu caro, absoluta. - Afirmou o homem com convicção em seus olhos castanhos.
— As criaturas podem não cumprir sua palavra, achas sensato enterrar seus dons?
Ele perguntou ainda desconfiado. A luz da lua cheia iluminava a caixa que o outro segurava debaixo da grande araucária. Os outros em volta dele pareciam tomados da mesma decisão que o primeiro duvidava.
— Se algum dia o dom voltar a se manifestar em nossos descendentes, a própria alma os guiará para este lugar. - A mulher de cabelos escuros e compridos disse enquanto segurava uma tocha, que iluminava o buraco que um deles cavava.
— Ainda acho que estão cometendo uma insensatez meus amigos, vós sabeis que não se deve confiar nos seres de almas sombrias. - Sebastian insistiu.
— É o que sabemos, porém lhes daremos esse voto de confiança. Daremos aos nossos descendentes a escolha que não tivemos. Eles poderão desfrutar de uma vida normal se quiserem, longe das criaturas das trevas.
— Os Von Otman não deixarão de cumprir sua missão de caçá-los ou de vigiá-los, mas respeitaremos o trato em consideração a vós. - prometeu Sebastian.
— Eu agradeço irmão de sangue.
Ele disse estendendo a mão que trazia uma pequena cicatriz. Sebastian também estendeu a sua que trazia o mesmo sinal e quando se apertaram, as marcas se encontraram.
— A partir desta noite, os Venatores de nossa linhagem deixaram de caçar as criaturas da noite. Mas, se algum dia retornarem, aqui encontrarão sua força.
O homem disse colocando a caixa dentro do buraco enquanto os outros em volta olhavam-no enterrar a relíquia preciosa aos escolhidos da missão de proteger vidas.
~ * ~
Ser ou não ser? Eis a questão! O que você é no presente; não passa do resultado das decisões que tomou no passado, no entanto toda regra tem sua exceção. Quem eu sou hoje não é consequência de minhas escolhas, quem eu sou é estranho para mim. Me desconheço, não me reconheço. É aí que o caminho se bifurca, ser ou não ser? Enfrentar meus males conhecidos ou enfrentar minha realidade obscura desconhecida? No entanto, é mais confortável suportar os males que conheço; a fugir para outros que desconheço, assim a reflexão me faz... covarde.
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