3.
Sobrenatural
“ Acho que realmente estou ficando louca! ”
Pensei enquanto tentava me acalmar. Já era a terceira vez que eu via aquela mulher e tinha começado quando eu voltei de Manaus. Respirei fundo novamente e abri os olhos devagar.
— Ah meu Deus!
Sibilei mortificada com que eu vi. A mulher estava lá outra vez, refletida atrás de mim. Fiquei sem ação enquanto ela me olhava calmamente, usava o mesmo vestido de época. Os cabelos castanhos escuros e cacheados chegavam na cintura e seu rosto era lindo, não se adequava muito com alguém que estava... morta.
— Lavígnia.
Ela me chamou e eu prendi a respiração. Eu estava tão imóvel que nem mesmo piscava mas, resolvi ver o que ela queria.
— Sim... - sussurrei.
— Você precisa voltar. - A jovem fantasmagórica disse a mesma coisa que em meu sonho.
— Pra onde? - minha voz saiu num fio.
— Pra quem você é.
— Quem sou eu? - repeti confusa.
— Sim, você tem que voltar.
— O quê? - Perguntei quando fortes batidas na porta se fizeram ouvir e num piscar de olhos, ela sumiu.
— Lavígnia? - a voz de Neitan chamou do lado de fora do meu quarto – Lavígnia você está bem?
Pisquei algumas vezes olhando para o banheiro vazio e então corri para abrir a porta e encontrei Neitan com uma expressão preocupada.
— Você está bem? Te ouvi gritar...
— Ouviu?! Hã... é... eu me assustei com uma lagartixa, mas eu estou bem. - Expliquei ainda atordoada enquanto seus olhos verdes me avaliavam.
— Hã... bem é que eu me preocupei um pouco, por isso subi aqui. - Justificou-se ele e eu pisquei.
— Tudo bem, Neitan. Obrigada por se preocupar.
— Certo... então eu já vou indo. - Neitan avisou afastando-se pelo corredor e de repente senti muito medo de ficar em meu quarto sozinha.
— Espera, vou com você. - Falei me colocando ao seu lado.
— Tem certeza de que está bem mesmo? - ele perguntou quando descíamos as escadas.
— Tenho sim... por quê? - estranhei quando passava pela porta da cozinha.
— É que você está parecendo meio perturbada. - disse ele sendo o bom observador de sempre.
— Ah... é que meu trabalho está me sobrecarregando, minha tia tá me enlouquecendo. - Revelei enquanto pegava a jarra da cafeteira. Neit sentou-se do outro lado da bancada – Você quer? - apontei a xícara e ele fez que não.
— Não, obrigado. Mas então, o que sua tia está fazendo pra te tirar do sério?
— Ela enfiou na cabeça que tenho que saber tudo que ela faz no trabalho, tenho que ler processos, petições, fazer relatórios, etc... ela quer que eu esteja pronta pra assumir o caro dela daqui há sei lá... trinta anos! - exagerei antes de bebericar meu café – É muita pressão às vezes dá vontade de... sei lá... - parei ao ver que estava exagerando no meu desabafo.
— De quê? - insistiu ele e eu ri sem vontade.
— De largar tudo e sumir! Sair por aí caminhando contra o vento, sem lenço e sem documento. - Falei, aproveitando a letra da música do Caetano Veloso.
— Parece uma ótima ideia – ele embarcou na coisa – por que não faz?
— Ah... não sei. É só uma ideia sem sentido algum... tenho meu trabalho, responsabilidades, coisas que me prendem aqui. - justifiquei.
— São suas próprias desculpas, Lavígnia. Seus limites você mesma cria e impõe, liberte-se e faça o que tem vontade de fazer. - filosofou ele conseguindo me fazer considerar mesmo a ideia.
— É... você deve estar certo, mas... é complicado. - relutei segurando minha xícara entre as mãos.
— Só se você quiser.
— Hum... você só fala assim porque já fez isso uma vez. - falei, encontrando seus olhos divertidos.
— E não me arrependo, pra falar a verdade... eu faria de novo.
— Sério? - duvidei.
— Sério... sabe, às vezes é preciso se desligar do mundo pra dar atenção ao que realmente importa... nós mesmos. - declarou Neitan me fazendo ficar presa em seus olhos por alguns segundos.
— Desse jeito você vai acabar me convencendo. - brinquei mas no fundo, falava sério.
— Perfeito! Quer companhia?
— O quê?! - me surpreendi e ele riu.
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