>

sábado, 16 de março de 2013

Capítulo 2 - 4ª parte

— Eu não gosto dele!

— Claro que gosta! - Insisti.

— Só acho ele bonito, só isso...

— Ah tá... sei.

— É sério Lavígnia, além do mais está na cara que ele é caidinho por você. Não vou perder tempo com um cara que não dá a mínima pra mim.

Mariana choramingou e eu me levantei. Aquela conversa estava ficando estranha e eu já estava com sono pois já passavam das dez horas.

— Bem, seja como for, eu amo Damian e nunca vou ficar com outro cara. Então pode ficar tranquila... - Falei e ela torceu o nariz.

— Já disse que não gosto dele! - ela disse levantando-se também - Agora vou dormir, tenho que acordar cedo.

— Hum... eu também – falei, subindo as escadas com ela ao meu lado - boa noite.

— Boa noite.

Respondeu antes de entrar no quarto dela. Assim que fechei a porta, vi meu celular piscando em cima da cama. Como estava escuro, as luzes coloridas se destacavam anunciando o recebimento de uma mensagem. Sentei na cama e peguei-o. Era uma mensagem de Damian, dizia que não poderia me ver naquela noite pois tinha algumas coisas pra fazer. Me arrepiei toda ao imaginar no que ele estaria ocupado, é claro que ele não me dizia, mas eu sabia. Ele e os outros matariam alguém.

Suspirei com força ao concluir isso. Eu sabia que o cara que eu amava, era um vampiro, mas procurava ignorar o meio de alimentação dele na maior parte do tempo. É claro que nas vezes em que a realidade me atingia, eu achava aquilo irreal, macabro e horrível. Eu já tinha me pego várias vezes relembrando a cena do mês passado, quando eu tentava sair do armazém em chamas e ao olhar para o lado, vi Damian com os lábios cobertos pelo sangue do vampiro que tinha matado.

Imaginar aquela cena se repetindo com um humano - mesmo que fosse um assassino - era perturbador. Damian era um assassino, e eu o amava. Às vezes, eu me sentia em um dilema. Maneei a cabeça e larguei o celular, fui escovar os dentes e voltei para a cama. Eu estava muito cansada devido às tarefas fora do comum que tive, então, dormi bem rápido. Desta vez, porém, sem pesadelos.

— Está perfeito, Lavígnia – disse minha tia na manhã seguinte quando fui na sala dela – Está óbvio que você nasceu para ocupar esse cargo.

— Não estou muito certa disso. - murmurei enquanto Savanah olhava meu relatório.

— É claro que sim, você foi brilhante em sua tese. Sendo assim, gostaria que lesse esses aqui – Savanah disse me entregando duas pastas.

— O que é isso?! - indaguei olhando para as pastas como se fossem me morder. Minha tia torceu o nariz, sentada atrás de sua mesa de madeira.

— Como eu disse, você nasceu para isso Lavígnia. Quero que saiba tudo que seja necessário para que quando assumir esse cargo, continue honrando o nome da nossa família. Como tem sido há séculos.

— Mas eu não quero isso! - protestei deixando os ombros caírem frente àquelas desanimadoras palavras.

— Não pode negar o legado de sua família! Vai quebrar uma tradição quase secular?

— Tudo bem... - concordei antes de sair resmungando da sala dela.

— Mais um relatório? - Juliana observou assim que passei pela mesa dela.

— Nem me fale! Não aguento mais isso.

— Sua tia tá pirando, Lavígnia. - disse ela fazendo uma observação muito boa.

— Concordo.

Falei, entrando em minha sala abarrotada de pilhas e mais pilhas de pastas. Os constantes relatórios que Savanah me pedia, estavam atrapalhando meu trabalho. E me enlouquecendo também. Eram muitas coisas, estavam me entupindo de trabalho e o mais estranho, era que a maioria do que me passavam, eram coisas supérfluas. Então uma ideia me ocorreu, não estariam tentando desviar minha atenção? Não. Eles não poderiam esconder mais nada de mim, uma vez que agora eu era parte do Conselho.

Tratei de afastar aqueles pensamentos e me concentrei no pedido de minha tia. Mas assim que a hora de eu sair do trabalho chegou, larguei tudo. Não estava com vontade de fazer hora extra por uma loucura de Savanah. Eu iria para casa e descansaria. Então, desliguei o computador e larguei tudo exatamente como estava – uma bagunça – e saí. Juliana mostrou-se surpresa por eu estar saindo na hora certa aquele dia.

— Nada de hora extra hoje?

— Não mesmo - confirmei – não vou embarcar muito nessa onde de loucura da Savanah e acabar louca também. Até amanhã.

— Até. - Juliana disse com uma risadinha.

O sol ainda estava muito forte, exatamente o que é de se esperar de uma tarde de verão. O Outono começaria no mês que vêm então o frio demoraria um pouco para dar as caras. O que para mim estava perfeito. Detesto frio, embora tenha que reconhecer que as estações de frio, são muito charmosas. Depois de jogar minha bolsa no banco de passageiros, liguei o carro. Havia um bloqueio na avenida principal, então tive que passar por algumas ruas vicinais afim de chegar em casa.

Eu não passava muito por aquela rua, de modo que não estranhei o fato de estar quase deserta. Havia alguns carros estacionados junto ao meio fio, árvores faziam sombra nas calçadas e tudo estava bem quieto. Tão quieto que me perturbou ao ponto de ligar o rádio. De tanto ouvir Mariana e seus CDs da Lady Gaga, acabei gostando das músicas dela, então o que saiu do pen drive naquele momento foi Paparazzi. Aumentei o volume tirando meus olhos da rua por apenas um segundo, mas assim que mirei a frente de novo, tive uma surpresa.

Do nada, o sol havia sido encoberto por uma nuvem negra. E alguns metros diante do carro estava uma figura, que não acreditei ao reconhecer. Era ela, a mulher. A mulher estranha com que eu sonhei, só que dessa vez ela trajava um vestido antigo e comprido. Do tipo que mulheres ricas deviam usar no século retrasado, a distância entre ela e o carro foi vencida muito rápido. De modo que meu reflexo foi tentar desviar dela, o que me fez ir parar com as duas rodas dianteiras em cima da calçada, e ela desapareceu. Fiquei totalmente sem reação durante vários segundos, o que tinha sido aquilo? Eu estava vendo coisas?

Procurei respirar fundo várias vezes para me acalmar. Então coloquei o carro de volta na rua, sem conseguir evitar, olhei para todos os lados procurando por ela. Mas não encontrei nada. Aquilo tinha sido assustador, eu realmente tinha visto a mulher. Dessa vez eu tinha certeza de que não estava sonhando, tinha sido real.

“ Será que estou mesmo ficando louca? ”

Me perguntei enquanto dirigia para casa, havia sido tão real. Tão assustadoramente nítido que seu rosto agora, tinha ficado gravado em minha mente. Sabendo que vampiros não eram uma lenda, me perguntei quais outras “ lendas ” não seriam somente histórias pra assustar crianças. Eu tinha visto um... fantasma? Fantasmas realmente existiam? O que era isso agora? Além de guardiã do segredo dos vampiros eu seria também de fantasmas? Do jeito que minha vida mudou desde o ano passado eu não podia duvidar muito.

Nenhum comentário:

Postar um comentário