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terça-feira, 1 de outubro de 2013

Capítulo 7/ 3ª parte


Nova capa, agora é a oficial
                                              
— O que tem os Otman?

— Exatamente. O que eles tem conosco que eu não sei? Por que não me conta tudo de uma vez e evitamos que eu perca um tempo enorme procurando a resposta? - sugeri.

— Não sei do que está falando... Agora volte para casa e esqueça os Otman, entendeu? - fui obrigada a rir da sua ordem.

— Não vou voltar, George. É melhor não perder seu tempo tentando me convencer do contrário. Tchau.

Falei, encerrando a ligação, espumando de raiva. Agora eu tinha mesmo certeza de que havia alguma coisa em Bom Jesus e que meu avô não queria que eu soubesse. Eu estava envolta de um grande mistério e de alguma forma, sentia que eu estava diretamente envolvida com ele. Mas até desvendar esse “ seja lá o que for ” eu me sentia nas sombras. Com um suspiro inconformado, me dei conta de que Ágatha não estava em lugar algum por perto. 

— Ágatha? - chamei olhando em volta, mas não houve resposta – Ágatha! 

Continuei chamando mas ela não respondia, o que me deixou alarmada. Então fui na direção de onde vi ela sumir. Saí empurrando as folhas e me embrenhando mais na floresta, o que era perigoso já que podíamos realmente nos perder. Andei por uns três minutos até ver a doida da minha irmã agachada com uma das mãos no chão.

— Ágatha! - gritei fazendo-a dar um salto.

— Ai guria você me assustou! - ela gritou de volta colocando a mão no peito.

— Eu te assustei?! Você me assustou sumindo no meio do mato! O que raios você quer aqui? - exigi, vendo que ela estava pálida como se tivesse visto um fantasma.

— Hã... eu... eu... - ela gaguejou de forma nervosa – eu disse que queria explorar um pouco! Não faça dramas, estamos há uns vinte metros de casa, no máximo!

— Isso não importa! Você devia saber mais que todo mundo que é perigoso se embrenhar numa floresta qualquer! Não passou três anos na amazônia? - ralhei doida de raiva e depois olhei para o chão – Por que estava com a mão no chão?

— Ah... perdi meu brinco. - ela respondeu colocando a mão na orelha, mas me pareceu evasiva.

— É melhor voltarmos, Mariana já deve estar chegando. 

Falei emburrada e dando as costas, voltei por onde tinha vindo sem parar para me certificar se Ágatha me seguia ou não. Porém o som de folhas sendo esmagadas atrás de mim, me respondia isso. Enquanto voltávamos o silêncio imperou. Ágatha parecia introspectiva, mas eu estava tão brava por conta da discussão com George que não quis perguntar o motivo. Mesmo sabendo que ela não me responderia. 

— Ok... você está certa, desculpe. Eu não devia ter sumido sem avisar. - Ela reconheceu assim que chegamos na rua.

— Tudo bem... é que eu pensei que você pudesse ter se perdido, desculpe por te assustar. - pedi com um meio sorriso e um encolher de ombros.

— Somos duas malucas! - Ágatha falou rindo e as duas acabamos caindo na gargalhada.

— Isso é um fato. - concordei quando meu celular tocou – Era a Mariana dizendo que já está na entrada da cidade. - contei e Ágatha saltitou em direção ao portão.

— Ai que legal! Estou com tanta saudade daquela maluca, vem vamos esperá-la lá na frente.

Ela convidou correndo para a viela ao lado da nossa casa que ligava a rua onde estávamos à rua da frente. Eu a segui e paramos em frente ao portão.

— Vou avisar a vó que Mari está vindo também. - anunciou puxando seu SmartPhone branco do bolso de trás.

Puxei meus óculos de sol para os olhos e mirei o fim da rua. Vi quando o carro de Mariana fez a curva e surgiu em alta velocidade na nossa direção. Aquilo era incomum pois Mariana – embora fosse meio maluca – morria de medo de velocidade e nunca a vi passar um quilômetro sequer do limite permitido. E também que pela hora que ela me ligou avisando que estava vindo e a hora que chegava, deixava claro que ela tinha vindo bem acima do limite. Estaria com pressa de chegar?

— Ahhhhh – berrou minha irmã quando Mariana saiu do carro – não te vejo há tanto tempo que nem te reconheci! Mari! - exagerou ela quando abraçaram-se.

— Nem eu – Mariana torceu o nariz – você cortou o cabelo!

— Cortei sim, gostou? - exibiu-se Ágatha passando a mão nos cabelos curtos e lisos.

— Ficou lindo! Tá parecendo a Maitê do Rebelde original, lembra? - observou ela.

— E tem como não lembrar? Eu amava o RBD.

— É impressão minha ou você chegou tão rápido porque estava quebrando limites de velocidade? - perguntei em tom de brincadeira, mas era sério.

— Estava com pressa. - disse ela dando de ombros – Tem alguém aqui muito ansiosa pra te ver, Lavígnia.

— A mim? - indaguei curiosa enquanto ela ia abrindo a porta do passageiro, Mariana tirou uma daquelas caixinhas acolchoadas de transportar animais.

— Sim, você mesma. Ela passou a noite toda revirando a casa atrás de você. - Mari anunciou me entregando Néftis.

— Ah... Néftis! Que saudades meu amorzinho... - murmurei tirando ela da caixinha e a abraçando.

— Vem, vamos entrar - Ágatha a agarrou pelo braço – me conta o que você anda aprontando. Lavígnia me disse que você tem uns amigos bem gatos por aqui.

— Disse é? - Mariana me lançou um olhar suspeito.

— Verdade seja dita, ele é bonito mesmo. - dei de ombros quando entrávamos.

Depois de entrarmos em casa, ficamos uma meia hora conversando. Mariana dissera que não gostava nada da ideia de ficar sozinha e achara uma boa ideia ir passar o fim de semana em Bom Jesus. Planejava inclusive nos arrastar para o haras dos amigos e apresentar Ágatha pra todo mundo.

— Mas nem pensar, Mari. - negou minha irmã com veemência. 

— Ué, mas por quê?

— Porque eu já fiz meus planos para esse sábado. Vou relembrar os velhos tempos quando eu passava o dia todo cavalgando lá na fazenda do Cilho e...

— Mas lá onde eles moram tem um monte de cavalos! A família deles é comerciante, criadora de cavalos de raça sei lá. Só sei que que eles tem a maior grana por causa disso. - contou Mariana mordendo uma maçã.

— É um haras. - corrigi e ela deu de ombros.

— Que seja, o que importa é que tem cavalos.

— Hum... pode ser, mas hoje não. Quero mesmo rever alguns lugares e já está mais que na hora. Vamos lá! - Ágatha levantou-se batendo palmas – Você vem junto!

Apontou para Mariana como que dando uma ordem.

— Ah... mas eu já liguei pra Lídia avisando que ia passar lá hoje.

— Vai ficar lá o dia inteiro? - indignou-se Ágatha – Faz uns cinquenta anos que não me vê e quando nos encontramos você prefere passar o dia com seus amigos?! Magoei. - disse ela fungando e fazendo uma cena e tanto.

— Ai Ághs... você deveria ser atriz, sabia? - devolveu Mariana ao se levantar.

— Vocês duas deveriam ser na verdade... - falei, maneando a cabeça e ganhei um olhar mordido em dose dupla.

— Então como ficamos?- perguntou minha irmã – Nós ou eles?

— Ai não faça dramas, a gente pode passar lá só pra dizer um “oi” e depois vamos pro Cilho. Tudo bem?

— Pra mim tudo bem... - concordou Ágatha.

— Como assim nós? - indaguei, pois passar por lá não estava em meus planos originais.

— Ah... estou cansada de dirigir e se vamos pro mesmo lugar, por que ir em carros diferentes? 

— É mesmo... - concordou Ágatha e eu suspirei.

— Certo, eu dirijo.

— Oba! Estou ansiosa para chegar lá. Vamos, vamos... - saltitou minha irmã em direção ao meu carro com Mariana atrás.

Como eu era voto vencido, achei melhor concordar e aproveitar o dia. Se eu pudesse, pois eram tantas as coisas em minha cabeça. Coisas essas que eu estava maluca para descobrir. Enquanto dirigia em direção ao haras, Mariana ia me guiando pois tinha mais noção do caminho que eu. Eu repassava mentalmente a cena de mais cedo, mesmo que quisesse ignorar, eu não tinha pego aquela toalha. Assim como não tinha desligado o computador e nem deixado aquela xícara perto da beirada. As coisas estavam ficando piores ou mais intensas, dependendo do ponto de vista. Mas como eu estava passando por aquilo sozinha, o ponto de vista era só meu e por isso mesmo, muito ruim.

— Nossa Mari, esses seus amigos não moram e sim se escondem! - comentou Ágatha quando o carro entrou na estrada de terra comprida que levava até lá.

— É mesmo... acho que eles preferem a tranquilidade. 

— E desde quando se isolar é tranquilo?

— Isolar? - Mariana riu – Mora um monte de gente lá.

— Sério?

— Hum-hum.

— Quem?

— Ah... moram...

Mariana começou a responder, porém eu não prestei mais atenção. A passagem pelo exato lugar onde a árvore tinha caído me obrigando a mudar de direção na última vez, me trouxe lembranças. Porque errei o caminho, fui parar na mansão - oculta na floresta – dos vampiros de Bom Jesus. Somente de repassar aquelas cenas, senti um arrepio me percorrer. Era estranho, mas por mais civilizados que fossem, eu sentia algo extremamente sombrio sobre eles. Talvez fosse porque eu sabia que Damian havia me ocultado algumas coisas e talvez, mentido.

Pelo menos fora o que dissera o maluco do Juan. Mas em quem eu acreditaria? Pois também de forma estranha, naquela noite em que fui parar nas mãos de Juan, eu percebi que ele não pretendia me matar. Ele queria chegar no Caçador e se arriscou muito por aquilo. Suspirei discretamente, pois quando eu parava para analisar os fatos, percebia que a nuvem sombria que me cercava estava cada vez mais escura. Quanto tempo mais eu teria que esperar nas sombras?

— Ah, olha o Léo ali! - Mariana apontou enquanto eu parava o carro perto da garagem.

— Hum... está bem mas não demore pois quero curtir meu sábado. - avisou minha irmã sem fazer menção de sair do banco do passageiro.

— Ai, tá bem! Que coisa. - Mariana saiu reclamando e é claro que desci também para cumprimentá-los.

— Quer dizer que não aguentaram ficar longe de mim? Eu sei que sou irresistível meninas... - brincou Léo dando um abraço na Mari.

— Ah é... realmente não tem como resistir ao seu charme Léo. 

Concordou ela com uma risada. Juro que quase tive um infarto quando vi Neitan sair da porta de casa com a camiseta pendurada no ombro. Tive que admitir que ele era bem mais sarado do que eu imaginava, mas eu já fazia uma certa ideia do quanto Neit era sedutor. Só não contava que um dia pudesse conferir isso ao vivo e em cores, e o quanto iria ficar sem graça. Ele me dirigiu um sorriso de matar qualquer garota do coração e eu tive que usar todas as minhas forças para fingir que não estava sentindo nada.

— Vocês aqui meninas? - ele olhou de uma para a outra e vi Mariana piscar completamente aturdida pela visão daquele pedaço de mau caminho.

— É... passamos pra dizer oi. - gaguejou minha prima e eu senti vontade de rir. - Lavígnia resolveu passar uns tempos aqui e eu aproveitei para vir passar o findi1

— Hum... então decidiu se rebelar, é? - ele indagou se aproximando de mim. 

— Pois é, resolvi sair antes que pusesse fogo no prédio da Secretaria. - respondi ajeitando meus óculos fazendo eles rirem. 

— Cadê a Lídia? - Mari perguntou enquanto eu percebia os olhares curiosos dos garotos para dentro do carro.

— Estou aqui, que bom que veio Mari! - Lídia surgiu da direção da casa do avô e as duas se abraçaram.

— Quem está com você? - Léo se interessou.

— Ah... é a minha irmã, ela está meio antissocial hoje.

— A gêmea?! - Léo quase gritou e eu ri. 

— Ela mesma... espera aí – falei me aproximando da janela aberta do lado do motorista e a vi mexendo no celular – não seja mal educada e desça pra conhecê-los.

— Hum... esse “oi” da Mariana pros amigos tá meio demorado não acha?

— Ágatha!

— Está bem, está bem. - concordou ela descendo do carro, Ágatha deu a volta e se pôs ao meu lado – Olá. 

— Oi. - disseram em uníssono.

— Vocês não são parecidas. - observou Léo.

— Nós sabemos. - Ágatha e eu respondemos juntas.

— Mas você não estava no Amazonas? - Léo de novo. Notei que Neitan olhava muito para minha irmã... teria gostado dela?

— Estava... no passado, pois no presente, estou aqui. Entendeu?

— Explicado desse jeito não tem como não entender. - Léo entrou na brincadeira dela.

— Nossa, você está me seguindo? - soou uma voz grave e sedutora e nos viramos para encontrar o cara lindo que segurou Ágatha na escada do teatro. Meu queixo caiu. Então eu não havia me enganado em comparar a cor dos olhos dele com os de Neitan e dos outros. Se estava ali, devia ser da família também. 

— Hã... não. É você que parece estar em todos os lugares que vou. - devolveu minha irmã nada tímida ao abaixar os óculos para vê-lo melhor.

— Hum, então acho que estou com sorte. - replicou ele com um sorriso.

— Vocês se conhecem? - estranhou Mariana.

— Voltamos para o Rio Grande do Sul no mesmo voo. - explicou Ágatha e o bonitão olhou para mim.

— Nos vemos também.

— Hum... pois é. - torci o nariz lembrando da estranha conversa que ouvi dele no celular.

— E você é? - intrometeu-se Mariana.

— É o Ezequiel, é irmão da Catarina. - explicou Lídia.

— Mas você pode me chamar de Zac.

— Ah... vou me lembrar. - Mariana concordou.

— Agora que já nos conhecemos, temos que ir. Vamos gurias. - Ágatha decretou segurando meu braço.

— Mas vocês acabam de chegar! - protestou Lídia.

— A Ághs tá com pressa pra sei lá o quê. - entregou Mariana.

— E onde vocês vão? - Léo quis saber.

— Na fazenda do Cilho.

— E já estamos pra lá de atrasadas para curtir o dia, então... - Ágatha disse me arrastando até a porta do motorista – foi um prazer conhecê-los, Mari você vem?

— Por que tanta pressa? Parece até que você está fugindo de algo. Provocou Zac e eu vi que ali tinha alguma coisa. Havia rolado um clima entre eles e Zac era do tipo bem cara de pau, não estava fazendo questão de esconder o quanto minha irmã o agradara. Provavelmente, eles estavam fazendo algum trabalho pois além do Neit estar – perturbadoramente – sem camisa, exibindo um abdômen sarado ao estilo tanquinho, peitoral largo, braços e ombros extremamente fortes e definidos, os três pareciam meio cansados. Zac estava com a regata azul escura molhada de suor e usava luvas grossas como que para fazer algum trabalho pesado. Mas é claro que o que me chamou a atenção foi a tatuagem em seu bíceps, era a mesma insígnia dos medalhões prateados que todos usavam. Mas o que seria aquilo afinal? Que significado teria? Parecia ser importante, já que todos usavam. 

— É que eu vivo a mil por hora, sabe? Sou ao estilo não me segue que eu estou perdida. Foi um prazer. - dizendo isso ela voltou para o carro e eu fui obrigada a concordar com ela que ficar ali não parecia uma boa ideia.

— Bem... é melhor eu ir. Até mais.




1Fim de semana.

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