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sábado, 19 de outubro de 2013

Capítulo 7 / 4ª parte



— Mari eu preciso mesmo da sua ajuda... você não pode ficar? - pediu Lídia e minha prima me lançou um olhar perdido.

— Por mim tudo bem, nos vemos mais tarde... quer que eu venha buscá-la?

— Acho que não... você me dá uma carona Lid?

— Claro, sem problemas. - concordou Lídia.

— Certo, até mais então.

Disse antes de voltar pro carro. Quando assumi o volante, as duas já tinham entrado na casa e Léo havia saído na direção da casa dos Nunes. Apenas Neitan e Zac ficaram, eles conversavam mas seus olhos estavam fixos em minha irmã e eu. Neit acenou quando dei a partida enquanto Zac estava de braços cruzados, ainda nos olhando daquela forma descarada. Respondi o aceno de Neit e manobrei o carro para dar o fora dali.


— O que foi aquilo? - exigi assim que o carro passou pelas porteiras brancas abertas.

— Aquilo o quê? - devolveu ela indiferente.

— Ágatha, você parecia o diabo fugindo da cruz! Disse que estava ansiosa pra conhecer eles e quando conhece parece que não quer ficar mais um segundo por perto.

— Impressão sua...

— Impressão nada! O que houve Ágatha? - insisti e ela suspirou.

— Certo... não gostei da maneira que o bonitão me olhou, sei lá me deixou... insegura. - admitiu ela e eu apertei o volante. Eu me sentia do mesmo jeito em quase todas as vezes que estava na mira do olhar de Neitan.

— Você insegura? - disfarcei – Fala sério Ágatha, você é a pessoa mais extrovertida e cheia de si que conheço.

— Ah... eu sei lá. O jeito que ele me olhou foi... estranho eu me senti...

— Parte da família? - ajudei.

— É... isso mesmo. Como sabe? - estranhou ela e eu mordi o lábio.

— Hã... também me sinto assim, por mais esquisito que pareça. - admiti.

— E também que a visão daquele gato sem camisa estava de matar! - disse ela voltando ao normal – Eu tinha que sair de lá antes que começasse a babar. - completou caindo na risada e eu também ri.

— É verdade.

— Nossa... ele é lindo demais! - derreteu-se ela.

— Eu te disse que era... só não imaginava que tudo aquilo. - acrescentei ao relembrar a cena e nós rimos.

A tarde cavalgando no camping Fazenda do Cilho foi muito agradável. As belezas das campinas verdes, pequenos canyons e cachoeiras de Bom Jesus, agiu como indutor de uma pequena amnésia. Era difícil ficar preocupada rodeada por tanta beleza, mas eu não deixaria minha missão de lado. Também porque a cada segundo por ali as coisas ficavam mais estranhas. Ágatha sentir-se como eu me senti diante daquela família, era algo mais a se considerar. Minha irmã ficou calada e introspectiva por várias vezes, mas não ia mais perguntar o que era, já que eu detestava que me questionassem quando estava daquele jeito, não faria isso com os outros.

Quando parei o carro no portão dos fundos de casa, o sol já havia se posto no horizonte. Mariana ainda não tinha chegado e meus avós haviam ido à missa das seis horas na Igreja Matriz do Senhor Bom Jesus na praça central, então iriam demorar para chegar. Ágatha deu a desculpa de uma dor de cabeça para se trancar no quarto, depois de tomar um banho também me tranquei no meu. Néftis já estava deitada sobre a cama e parecia não estranhar o lugar novo. Liguei o computador e deixei que o Media Player escolhesse as músicas que tocaria, e a primeira a encher o ambiente foi Sem Ar do DeBlack.

Revirei os olhos e, soltei um suspiro aborrecido ao me sentar na cama. É lógico que a música que havia sido trilha para a minha dança com meu amor na festa da Mariana no mês passado, me fez lembrar dele. Ele havia partido na quinta-feira à noite e já era noite de sábado, Damian poderia ter me ligado. Mas não tinha ligado. Talvez fosse melhor, pois o que eu diria a ele? Como eu explicaria ter ido morar em Bom Jesus? Com um manear de cabeça, larguei o pente sobre o criado mudo e fui até a janela. Sentei no chão e olhei para a floresta. Depois de alguns minutos vendo nada mais que árvores e o movimento de alguns pássaros, fechei os olhos.

Foi como se eu estive diante de um telão de cinema 3D e em câmera acelerada. Vi a floresta. Mas com o susto abri os olhos, vasculhei à minha volta à procura de algo estranho ou suspeito, mas tudo estava normal.


“ Quais serão as reais chances disso ter mesmo acontecido? Nem uma! ”

Pensei enquanto voltava a mirar a floresta. O que tinha sido aquilo? Com um suspiro, fechei os olhos outra vez. Exatamente a mesma coisa, só que desta vez, colaborei. Vi a floresta outra vez, era como se estivesse sendo apresentada à um caminho. Um caminho que terminou na clareira que eu tinha visto em sonhos. A mesma clareira onde as pessoas enterraram a caixa prateada. Será que eu deveria ir até lá?

“ E me embrenhar na floresta no começo da noite! É pedir para ficar perdida e desta vez, sem um vampiro lindo pra me trazer de volta pra casa! ”

Pensei, me levantando e expulsando aquela ideia da cabeça. Eu não podia fazer uma loucura dessas... ou podia? Fiquei me questionando enquanto andava de um lado para o outro pelo quarto. Eu sentia a tensão ir crescendo aos poucos dentro de mim. Eu queria uma pista, o próximo passo e lá estava ele. Seja lá o que fosse que eu devesse encontrar, estava enterrado ao pé daquela araucária. Eu devia ir até lá. Mas não podia ir, e se eu me perdesse?

“ Pra que você veio aqui afinal? Não quer encontrar a resposta? ”

Minha mente gritou comigo e eu me odiei naquele momento por estar agindo igual uma covarde. Eu tinha em mente o que fazer, era só fazer oras!

— Ai que raiva!

Murmurei entredentes para não gritar, e me voltei para a cômoda encostada na parede que ficava quase lado da minha cama. De forma inexplicável, todos os porta-retratos em cima dela foram varridos para cima da cama e alguns caíram no chão. Foi como se alguém os tivesse atingido com raiva. Eu gritei e com o salto que dei para trás, bati na tela do computador que desligou, porém a próxima música continuou tocando, uma bem apropriada para minhas atuais condições. In The Shadows da banda The Rasmus. Fiquei paralisada no lugar, meu único movimento era o arfar do meu peito em minha respiração irregular.

Olhei os porta-retratos caídos em cima da cama, o topo vazio da cômoda e nada mais havia ali além de mim, a música tocando e Néftis que havia ido parar na porta pelo susto com o barulho e os porta-retratos voando em cima dela. Depois de analisar a cena umas quinze vezes, acabei concordando que realmente um surto de raiva tinha atingido os objetos na cômoda. E só tinha uma pessoa ali com raiva, eu.

Um comentário:

  1. Oiiiiiii Ana. coloquei seu banner e coloquei também seu blog na minha lista de blogs que leio e recomendo. tbm estou compartilhando suas postagens. obrigada. bjs

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