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segunda-feira, 29 de julho de 2013

Capítulo 6 - Rendendo-se

    6. Rendendo-se

Pulei para fora do carro no mesmo instante que o mesmo parou em frente à porta da minha casa. Deixei até mesmo a chave na ignição, corri para dentro de casa tomada de uma onde de adrenalina ocasionada pela decisão que havia finalmente tomado. Ou melhor, eu tinha finalmente me rendido ao desafio de encontrar as respostas que precisava e que – segundo algo sobrenatural e desconhecido – eu encontraria em Bom Jesus.

— Em casa a essa hora? - estranhou Mariana assim que entrei.

— Me demiti. - respondi disparando escada acima.

— O quê? Lavígnia, como assim se demitiu? - ouvi ela perguntar atrás de mim.

— Isso mesmo, Mari. Tô indo passar um tempo em Bom Jesus.


Anunciei indo até o guarda roupas e pegando minha mala. Não vi, mas pude sentir o choque dela pois calou-se por alguns instantes.

— Bom Jesus?! - ela finalmente repetiu enquanto eu começava a colocar minhas roupas na mala aberta sobre a cama.

— Sim, isso mesmo. Não posso mais ficar aqui Mari.

— Por que não pode? - indagou ela sentando-se na cama, suspirei. Eu não sabia o que responder.

— Porque meu trabalho estava me enlouquecendo, não me adianta nada ter uma carreira se eu enlouquecer antes de poder exercê-la! - respondi não muito longe da verdade enquanto colocava mais roupas na mala.

— Mas por que você vai ir pra lá? - Mariana insistiu.

— Meus avós moram lá, vou passar um tempo com eles. Depois eu vejo o que faço, embora saiba que George vai pirar e me ligar a cada cinco minutos pra saber o que deu em mim. - previ.

— Não quero ficar aqui sozinha. - balbuciou ela pegando Néftis nos braços.

— Por que não passa um tempo com a sua mãe? - propus.

— Pra ela me enlouquecer de vez? Não, obrigada.

— Eu sinto muito, mas não posso mais ficar aqui. - falei, indo até o banheiro pegar algumas coisas e as coloquei na mala.

— Mas sua vida é aqui! - insistiu.

— Não mais... pedi demissão, o cara que eu amo resolveu de uma hora para outra passar sei lá quanto tempo em outro continente, estou à beira de um ataque de nervos... resumindo; preciso mesmo de um tempo.

— E quanto tempo vai ficar fora?

— Não faço ideia... talvez quando me sentir em condições de tentar tudo de novo.

Respondi fechando minha mala grande e rosa de rodinhas e a coloquei no chão.

— Vai ir agora? - espantou-se ela.

— Sim.

— Ai Lavígnia, eu não acredito nisso. Não acredito que meus amigos foram pra Bom Jesus e agora você também! O que está havendo afinal? - reclamou ela e eu suspirei.

— Eu também gostaria de responder a isso... mas por enquanto eu não posso.

Respondi a olhando com Néftis nos braços, aquilo estava sendo mais difícil do que eu pensava. Eu amava Mariana como amava a minha irmã, mas precisava seguir o rumo ao qual estava sendo empurrada.

— Acho que tem alguma coisa que você não está querendo me contar. - adivinhou ela enquanto eu arrastava minha mala para fora do quarto. Eu tinha posto nela tudo que precisaria pois no meu quarto em Bom Jesus, tinham muitas coisas minhas.

— Talvez... tudo que sei, é que tenho que dar o fora daqui e agora. - repliquei colocando a bagagem no porta malas – vou deixar a Néftis com você, não quero que se sinta muito sozinha.

Anunciei fazendo um afago na minha gatinha, ainda nos braços de Mariana e depois abracei as duas com força.

— Vou sentir sua falta... - ela sussurrou me abraçando com o braço livre.

— Eu também... vou ligar todos os dias, prometo.

— Está bem. - ela concordou com a voz embargada e quando me afastei vi que seus olhos marejavam.

— Fique bem... por favor. Não faça nenhuma besteira e se comporte direitinho.

Brinquei bancando a responsável e ela riu.

— Prometo. - ela deu um meio sorriso e eu entrei no carro.

— Eu ligo quando chegar, tchau.

— Tchau.

Ela disse baixinho e eu dei a partida no carro. Me sentia um pouco triste por estar deixando minha casa e a Mari também, porém sentia mais forte a ansiedade de chegar e... sei lá o que faria ou onde procuraria as tais respostas. Algum tempo tempo depois eu já estava na RS 110 e levaria um pouco mais de três horas para chegar. Eu não tinha ideia do que iria fazer quando chegasse, mas só em estar indo para lá, me sentia mais aliviada. Foi só nesse momento que pensei em Damian, mas ele também não havia sido muito atencioso em me falar da sua viagem em cima da hora.

Também porque, eu não tinha previsão de quanto tempo ficaria em Bom Jesus. Passei toda a viagem até a casa dos meus avós, relembrando e repassando todos os sonhos que tive. Procurando neles alguma pista de por onde começar. Mas o máximo que eu tinha, era que havia uma caixa prateada enterrada em algum lugar da floresta, ao pé de uma grande araucária com uma depressão no tronco. O que é claro não me valeria de nada se aqueles sonhos não passassem de sonhos e eu tivesse jogado tudo pro ar, por nada.

“ Impossível! Tudo se completa demais para serem apenas sonhos! ”

Pensei enquanto apertava o volante com força. Tinha mesmo algo irreal me rondando e eu estava disposta a não descansar enquanto não encontrasse o sentido de tudo aquilo. Não pararia até encontrar as respostas. Cerca de três horas e quinze minutos depois, eu parava o carro em frente à casa branca de dois andares onde eu havia passado uma boa parte da minha vida. Saí e tirei a mala do bagageiro, antes mesmo de abrir o portão, meu avozinho apareceu na porta com um largo sorriso em seu rosto redondo e coberto pela barba branca bem aparada.

— Benditos olhos que te veem, minha menina! - ele exclamou caminhando devagar pela entrada de pedras.

— Vovô, que saudades! - larguei a mala e o abracei com força. Meu avô era mais alto que eu e portador de uma barriga redondinha, mesmo sendo magro. Era uma imagem copiada do cientista Summerlee da primeira temporada de O Mundo Perdido.

— Fico tão feliz que também veio passar um tempo conosco, deixe-me ajudá-la. - Disse ele fazendo menção de pegar minha mala.

— De maneira alguma! Eu mesma levo, não está pesada... - foi só aí que suas palavras fizeram efeito em mim – também? Como assim?

— Ah, então você não sabia? - devolveu ele fitando-me por trás dos óculos de armação redonda e prateada.

— Não... o que é?

— Lavígnia! - minha vó surgiu na sala assim que entramos – Que bom que finalmente vai ficar aqui com seus avós. - Disse me envolvendo num abraço apertado que eu correspondi.

— Eu disse que vinha.

— Isso é maravilhoso! Ter vocês aqui é ótimo minha filha. - falou meu avô.

— Vocês? - estreitei os olhos – Como assim, vocês?

— Ah... isso - minha avó suspirou – ela pediu pra não contar pra você que estava aqui, mas já que veio, não tem mais como esconder.

— Hã? - recuei confusa e vi a imagem – um pouco diferente – de minha irmã surgindo da porta da cozinha.

4 comentários:

  1. Ana...toh sentindo a sua falta moça,super curiosa pelo livro,vc eh uma otima escritora..bjs

    scarllett

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    1. Oiiiiiii amore, obrigada pelos elogios ^.^ Eu sei que estou bem sumida, é que estou preparando um layout novo aqui pro blog no meu Photoshop e isso é tãaaaaaaaaaaaaaaaaaaao complicado =/ Desculpa por não postar nada do livro, vou fazer um post novo hoje ou amanhã. Super beijo e obrigada por sempre acompanhar <3

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  2. Parabéns Aninha mais um capítulo bem feito...Ansiosa pelo próximo.Bjo

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    1. Muito obrigada! ^^ Já tem mais post \o/
      Super beijo :*

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