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sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Capítulo 2 - Um Brinde Especial

                                             2.Um Brinde Especial

Deixei Néftis com a vizinha do lado esquerdo e então partimos.
Fiz questão de deixar meu celular em casa, não queria nem
correr o risco de ver o número do maldito traidor na tela. A
primeira parada que fizemos foi uma base de treinamento militar em
Manaus, minha irmã adorou voltar lá. Ficamos em um pequeno
alojamento na floresta, mal deixamos as malas e já fomos conhecer
um dos treinamentos.

Era um circuito em forma de um C. A primeira etapa era um
caminho de um vinte metros, com o que pareciam Xs gigantes
enterrados a um pouco menos da metade, tínhamos que apoiar as
mãos em cada uma das extremidades e pular. Depois passar por três
pneus gigantes em pé, correr e escalar uma parede e pular para o
outro lado, passar por uma trave, entrar e sair de mais três pneus só
que desta vez eles eram deitados no chão, passar arrastando-se
debaixo de uma tela a poucos centímetros do chão e para terminar
subir numa corda e ir passando para as outras cinco ao lado, se caísse
teria que voltar.

Durante duas semanas fizemos esse percurso cinco vezes por
dia até que ele ficou extremamente fácil e qualquer de um poderia
fazê-lo sem nem suar. Depois passamos a fazer longos trechos de
natação seguidos de outros trechos de corrida pela mata tanto no
calor escaldante quanto na chuva. O objetivo era deixar-nos muito
resistentes a qualquer situação. E então a parte mais difícil para mim,
já que caçaríamos criaturas noturnas, teríamos que nos acostumar a
trocar o dia pela noite e então passamos a repetir todos os
treinamentos já feitos só que nas altas horas da noite e até o sol
nascer. Então finalmente a parte que eu mais queria: armas. Por uma
semana aprendemos a usar desde uma pistola automática até um
fuzil. Primeiro treinando tiro ao alvo, depois simulações de batalhas,
atirar, abaixar, correr, correr abaixados, etc.

No final daquele mês eu já me senti muito diferente. Estava
forte e já não tinha mais medo do que antes eu teria, eu estava forte e
autoconfiante. Mas foi só o começo. Fomos para a raiz de tudo,
Roma. Debaixo da grandiosa capela Sistina há vários corredores e e
espaços que para todo mundo não existem. Há centenas de livros
escritos a mão que narram tanto a história dos Von Otman quando a
Durani. Pelo que entendi a cada geração de caçadores era dado um
livro que seria como um diário onde todas as criaturas pegas
deveriam serem descritas em detalhes.

Quando o livro fosse terminado, uma cópia deveria ser
enviada para aqueles arquivos. Senti-me orgulhosa em pertencer
àquilo tudo, agora eu era de fato como um dos meus antepassados.
Ficamos cerca de 15 dias aprendendo sobre toda sorte de criaturas do
mal como uma feiticeira vampiresca que toma a forma de uma bola
de fogo à noite nas Filipinas quanto outras que apenas existiam em
paz como uma raça de pequenas pessoas que vivem em cogumelos
na Noruega. Depois disso, como Neitan queria, fomos ao Tibet e lá
ficamos em um monastério escondido nas montanhas.
Lá ficávamos horas socando paredes, entortando metais com
as mãos além de várias artes marciais. Assim como os dons que
minha irmã, Léo e eu manifestávamos. Ágatha conseguiria incendiar
objetos apenas olhando para eles e querendo isso, já Léo tinha a
incrível habilidade de curar-se de qualquer ferimento em minutos.
Eu já conhecia muito bem o meu, diante da minha raiva eu podia
quebrar e mover qualquer coisa. Era bem fácil, era só concentrar-me
em alguma coisa e pensar em Damian. Pronto. Tudo quebrava ou
explodia.

Um paciente e sábio mestre ancião investiu em mim tentado
fazer-me controlar a minha raiva e usar bem o meu dom. Durante os
cinco meses que ficamos lá, três horas por dia eu passei com aquele
bom homem. No dia anterior à nossa volta eu fiquei um tempo
olhando para as cordilheiras cobertas de neve do Himalaia, eu era
sem dúvida uma outra pessoa. Era forte, rápida, destemida. Tinha
deixado a timidez e a tristeza para trás... porém uma coisa não tinha
ficado: o desejo de vingança!
Eu havia aprendido a dominar o ódio para que ele não me
consumisse, a dor para que não me fizesse chorar, mas a vingança
seria aquela que iria me honrar. Eu iria voltar para casa para fazer
Damian e todo o maldito clã dele se arrependerem do que me
fizeram. Mas Damian... Damian eu iria acabar bem devagar. Ele iria
pagar por cada palavra que disse, ah ele ia. Planejei minha vingança
em todos os detalhes e mal via a hora de voltar para casa e por tudo
em prática.
— Você está faz horas aqui – Zac surgiu – saudades de casa?
— Estou ansiosa para voltar – respondi sem tirar os olhos das
montanhas – tenho tanto para fazer.
— Nossa primeira missão é acabar com todos os semi-imortais
do Rio Grande do Sul.
— Moleza. - falei com bastante confiança e ele demorou até
falar.
— Você esteve tão calada durante esses meses... você está
bem? - preocupou-se o lindo e eu dei um sorriso de canto.
— Estou melhor do que nunca, mas sou uma mulher de
poucas palavras. - pisquei para ele e voltei a olhar a cordilheira.
— Estou ansioso para te ver em ação.
— E eu para entrar em ação.
— Vamos indo, vai levar um dia até chegarmos ao aeroporto
mais próximo.
— Ótimo, tenho muitos assuntos pendentes em casa.
Até deslocarmo-nos das montanhas até o aeroporto levou
mesmo uma viagem de um dia. Depois horas e mais horas, conexões
e trocas de aviões um logo caminho de volta para casa.
— Ai que saudade daqui!
Mariana atirou-se no sofá assim que chegamos em nossa casa
em Bom Jesus.
— Bah eu também, não aguentava mais dormir em
colchonetes cobertos por pelos de Iaques. Quero minha cama por
alguns dias. - disse Ágatha.
— E quero minha Néftis, estou com saudades dela. Vou lá
buscar.
Disse antes de ir até a casa da vizinha buscar minha gatinha.
Assim que cheguei a coloquei no chão e ela foi conferir a casa como
se não lembrasse mais dela. Peguei minhas malas e fui para o quarto,
assim que entrei abri as janelas e liguei o rádio numa estação
qualquer e enquanto arrumava as roupas em seus lugares percebi
duas coisas.
Primeira: eu precisava de roupas novas. Roupas sexys,
apertadas, decotadas e transparentes. E segunda: eu havia adorado o
heavy metal antigo que aquela rádio tocava, boa música, agressiva,
com atitude e beleza. Bem como eu queria me tornar. Então fui
tratando de tirar todas as roupas estilo “garotinha” e “sem graça”,
como aquela vadia ruiva havia dito, para doar. Agora eu queria
roupas bem ao estilo bad girl.
— Ai... depois de meses de meditação naquele monastério
estou louca por um pouco de diversão – disse minha irmã entrando
no quarto e pegando uma blusinha cor-de-rosa chiclete – você sabe
que parece uma patricinha de Bervely Hills quando usa isso, né?
— Ah eu sei, mas não se preocupe maninha pois nunca mais
me verá vestida como uma garotinha. - assegurei e ela assobiou.
— Uau, o que te fez mudar assim? A meditação? As armas? O
gatão do Neit babando por você o tempo todo? - ela riu.
— Aff, nada a ver. Não notou que ele nunca mais falou
comigo? comigo?—
— Bem... na verdade nem tínhamos muito tempo para
conversar naquelas montanhas.
— Isso é uma evasiva, você sabe. Ele ainda está bravo comigo
mas ele não me importa muito (que mentira!) estou focada em outras
coisas. - falei atirando um vestido rosa bebê para a área de doação.
— E no que está focada?
— Logo você vai saber. - respondi cheia dos mistérios.
— Hum... nossa. Se você pirar não me deixa de fora, ok? - ela
pediu com seu jeito louca e divertia de sempre e eu ri.
— Não tenha dúvidas. - falei fechando a porta do guardaroupas.
roupas.—
— Aí gurias olha só – Mariana surgiu no quarto – Vou pintar o
cabelo de rosa!
Falou olhando-se no espelho na porta do guarda-roupa,
Ágatha e eu trocamos um olhar tipo: Hein?
— Capaz? - duvidei.
— Não, é sério. Olha só, com esse cabelo – ela jogou as longas
madeixas onduladas com pontas cacheadas para a frente e elas
atingiram a cintura – eu pareço uma mulher sedutora e sexy.
— E o que tem de errado nisso? - minha irmã desdenhou.
— O quê? - ela virou-se para nós – É que eu não quero parecer
uma mulher sexy e sedutora, quero parecer uma jovem louca e
rebelde. Tenho vinte e três anos e quero curtir a vida, essa aparência
– virou de novo para o espelho – não me ajuda muito.
— Tem certeza? É uma decisão radical, vai ter que descolorir
seu cabelo. - Ágatha semeou a dúvida.
— Vai ficar demais. - apoiei realmente achando a ideia legal e
as duas me olharam surpresas.
— O quê?! - Mariana apavorou-se – A senhorita “sigo todas as
regras e sou certinha” está me apoiando numa rebeldia? Sério? -
ergueu uma sobrancelha.
— Essa – fiz aspas com os dedos - “sigo todas as regras e sou
certinha” já morreu e descansa em paz, tá? Já fiquem sabendo.
— Aaaaai amei! - Mariana bateu palmas com um sorrisão nos
lábios – e o que te fez mudar assim? - perguntou apoiando as mãos
na cintura.
— Tá na hora de mudar, só isso.
— Hum.
— Ela está toda misteriosa, Mari. Jeito de quem vai aprontar. -
Ágatha brincou.
— Lavígnia, minha prima amada e querida – começou Mari
num de seus momentos – todos esses anos que te conheço, você
sempre foi a menininha boazinha, então só vou acreditar que você
mudou se eu vir com estes olhinhos que um dia a terra a de comer.
— Todos vão ver priminha linda, isso eu garanto.
— Pois é, como você quase não falou com ninguém durante
esses meses eu estava achando que você ia se fechar outra vez, como
quando o pai morreu.
Quando ela disse isso eu senti uma pontada tão forte no peito.
Era culpa. Sim culpa, pois dormi com o maldito que foi o mandante
da morte do meu pai. Damian desgraçado, você vai me pagar! Pensei
com meus botões.
— Não... eu só estava bem focada em ser ótima nos
treinamentos.
— Hum... legal então supercaçadora, bora para a balada? -
pulou minha irmã da cama.
— Talvez depois, tenho que ir lá na escola da vó dar uma
olhada nas coisas. Consegui ligar para ela lá do aeroporto e ela disse
que não tem previsão para voltar pois quer ficar com eles até que a
menina consiga um transplante de medula.
Eu me referi a uma das três filhas do meu tio. Infelizmente ela
estava com leucemia e minha avó queria ficar o máximo de tempo
com ela, pois o pior poderia acontecer a qualquer momento.
— Tadinha dela... talvez devêssemos fazer o teste para ver se
somos compatíveis. - sugeriu Ágatha.
— E passar o gene caçador para a menina? - observei e ela
assentiu. assentiu.—
— Verdade.
— Ágatha onde está pensando em ir hoje à noite. - Mari
mudou o assunto.
— Ah sei lá, tipo um barzinho, ouvir música e ver gente
normal vai ser bom.
— Vocês não estão cansadas da viagem? - só para saber.
— Nem! - Mari negou – Quero sair também e aliás, acho que
vou fazer umas aulas lá na escola de dança da avó de vocês.
— Nossa! Isso é uma surpresa. Sabe que as turmas participam
de concursos e torneios de dança? - falei e os olhos dela brilharam.
— Ai que legal, e tem dança de rua? Adoro esse estilo.
— É claro que tem, a garotada ama.
— Vou passar lá.
— Bem, eu vou tomar um banho e arrumar uma roupa legal
para sair. - Ágatha anunciou saindo.
— E eu vou terminar de desfazer minhas malas e já aproveito
para achar uma roupa legal também, tem certeza de que não quer
sair com a gente?
— Eu ligo para vocês mais tarde para saber onde estão e vou
para lá. - garanti e ela assentiu.
— Beleza então.
Passei um certo tempo arrumando minhas coisas e descobri
que 95% das minhas roupas seriam doadas e os 5% restantes eu havia
ganhado de presente. Logicamente eu nunca tinha usado.
“Como eu era imbecil!”
Pensei revirando os olhos. Estava pegando umas roupas
jogadas em cima do travesseiro quando encontrei meu celular que
estava meio escondido debaixo dele. Engoli em seco. Aquele maldito
com certeza devia ter ligado algumas vezes. Ter-me fora de seu
domínio devia ser perturbador para ele. Queria que ele me visse
agora, com certeza seria a última coisa que veria pois eu acabaria
com a existência pestilenta dele. Liguei o celular e assim que o sinal
voltou o aparelho pipocou de mensagens das operadoras dos meus 3
chips com avisos de que tinham me ligado.
13 delas eram dos meus amigos, provavelmente querendo
saber onde eu estava mas as 89 restantes eram dele. Assim que liguei
os dados móveis meu whatsapp recebeu muitas mensagens, muitos
amigos perguntando onde raios eu tinha me enfiado e é claro que o
desgraçado também estava à minha procura. A primeira era essa:
“Fui até sua casa em Porto Alegre mas o porteiro do condomínio
disse que você não apareceu por lá. O que aconteceu?”
Eu voltaria para Porto Alegre no dia posterior à noite em que
o ouvi conversando com aquela peste sobre como havia me usado e o
quanto abominava ter que ficar comigo. As outras mensagens
questionavam o porquê de eu não responder, depois que estava
preocupado comigo, que estava com saudades, se tinha feito algo
errado e blá blá blá, tão repetitivas. O fato é que todas as mensagens
dele me deram asco.
Vontade de vomitar mesmo. Como ele podia ser tão hipócrita?
Bem, depois de todo treinamento em Roma eu sabia, o fato é que
vampiros não têm alma, e quanto mais velhos eles ficam mais vão
perdendo os resquícios da humanidade. Se tornam frios, egoístas e
sem piedade. Geralmente vivem sozinhos como andarilhos noturnos
e nesses casos são um pouco mais perigosos por beirarem à
selvageria. Outros, como no caso de Damian, se juntam em clãs e são
civilizados mas ainda são criaturas maléficas e sem alma.
Eu fui apenas um instrumento nas mãos dele, ele teria me
matado assim que eu desse problemas mas Neitan o conhecia e isso
desencadearia uma guerra sangrenta entre os venatores e eles. Pelo
jeito eu devia ao Neit minha vida mais de uma vez. Larguei o celular
depois de verificar a data da última mensagem dele, havia sido três
dias atrás. Era até divertido como ele havia se esforçado para parecer
preocupado:

Estou desesperado. Procurei você em todos os lugares possíveis,
você não está nem em Porto Alegre nem em Bom Jesus, Lavígnia eu imploro
que me responda mesmo que seja para me dizer que não quer mais me ver,
mas por favor responda-me .”

— Você é um idiota!
Falei largando o celular na cama. Mas ele iria sofrer muito em
minhas mãos ainda, isso eu tinha prometido, por mim, por Ariadne e
por meu pai. Mesmo cansada da viagem, eu queria ir ver como
estavam as coisas na escola de dança da minha vó, então peguei a
caixa de papelão com minhas antigas roupas e saí. Deixei a caixa nas
doações da igreja e caminhei até a escola. Tudo estava muito bem e
minha vó ficaria feliz. Enquanto verificava a lista com as novas
matrículas pelo canto do olho vi que a sala ao lado da recepção
estava vazia.
— Não tem mais turmas ali hoje. - indaguei à recepcionista.
— Não, a última turma foi às cinco da tarde. Só temos uma
turma noturna e as aulas são lá em cima.
— Tudo bem.
Respondi largando a folha e fui para a sala ampla, espelhada e
com paredes de tijolos maciços. Tirei meu par de sandálias
rasteirinhas e arrisquei alguns movimentos do balé clássico que eu
ainda conseguia fazer. Anos parada tinham me deixado um pouco
enferrujada. Estava há alguns minutos dançando quando uma figura
chamou minha atenção pelo espelho.
— Uau, nem parece que você deixou de dançar há anos.
— Joice? - virei-me para encontrar uma colega de classe da
época do balé.
— Eu mesma amiga.
— O que está fazendo por aqui?
— Agora eu sou professora aqui, não sabia? - disse ela ao se
aproximar.
— Capaz?
— Claro, cheguei há três meses de uma viagem que fiz para
participar de um concurso na França e me disseram que vocês esteve
por aqui mas que tinha ido viajar também.
— Ah é verdade, passei um tempo fora do país com uns
amigos. Mas que concurso foi esse?
— Pole dance, fiquei com o segundo lugar perdi para uma
russa. Os russos sempre dominam em tudo que envolva mover o
corpo né?
— Não acredito! Que máximo. Mas como do balé você foi para
o pole dance? - indaguei surpresa.
— Ah – ela deu de ombros – queria experimentar algo novo e
ousado e adorei o pole. Sou professora aqui.
— Tá, espera aí. Está dizendo que minha vó deixou ter aulas
de pole dance na escola dela? Não creio.
— Amiga, até sua vó se modernizou, todas as garotas querem
pole pois é a onda agora.
— Essa é nova, a superclássica da minha avó sensualizando na
sua escola. - falei ainda surpresa.
— É a vida Lavígnia, as pessoas mudam... E você voltou para a
dança?
— Na verdade não, acho que não seria uma má ideia.
Falei já começando a ter uma ideia que se encaixava
perfeitamente na mudança que eu estava começando.
— Pode fazer umas aulas comigo, ia ser legal. - ela pareceu ler
meus pensamentos.
— Acho que seria ótimo. - respondi animada.
— Vamos lá na minha sala e te mostro.
Então nós fomos. A sala tinha cinco mastros bem separados
uns dos outros e claro, um espelho imenso.
— É difícil no começo mas depois você acostuma e faz coisas
muito legais, embora as meninas aqui queiram mais seduzir seus
namorados e maridos do que fazer um pole acrobático. - Joice me
disse enquanto eu segurava um deles.
— Quero isso mesmo. - falei me sentindo mais sexy só de
encostar. encostar.—
— Hum então tem um namorado? - quis saber e eu apertei os
dentes discretamente.
— Não tenho, só quero deixar de lado esse lado sem graça e
ser mais sexy.
— Entendo, pois com o pole você vai conseguir exatamente
isso, despertar seu lado mulher. - ela disse com um sorriso malicioso
e subiu no pole fazendo um lindo movimento. - E conseguir outro
namorado.
Ela disse ao descer e eu maneei a cabeça, namoro era algo que
eu queria bem longe de mim.
— Não estou a fim disso, homens são descartáveis. É usar e
jogar fora. - falei cheia de rancor mas minha expressão não
demonstrava isso.
— Noooossa que mulher malvada, amiga seja lá o que for que
te aconteceu você está certa. Estou com um agora mas juro que não
confio nele. - ela contou.
— Nem confie pois vai se decepcionar... quando você dá
aulas?
— Segunda, quarta e sexta até às sete da noite depois saio
correndo para meu outro emprego, sou garçonete num barzinho e às
vezes eu danço lá para ganhar uma grana a mais.
— Nossa, você trabalha bastante.
— É... a vida não tá fácil. Mas e aí vai querer aprender isso
aqui?
— Com certeza! Tem vagas ainda?
— Você é a neta da dona, fala sério.
— Beleza, só vou avisar lá na recepção que estou matriculada.
- falei erguendo uma sobrancelha, ser neta da dona tinha suas
vantagens.
— Você vai conseguir o que quer com as aulas – ela disse
pegando uma mochila que estava no canto da sala – preciso ir agora
hoje é sexta e além de servir bebida vou ter que dançar.
— Puxa, que vida agitada. - achei legal, sério.
— Bem agitada, mas cansativa.
— Imagino, estou indo também vou encontrar minhas irmãs
para uma happy hour.
— Ah, legal passa lá no bar qualquer noite dessas.
— Onde fica?
— É quase fora da cidade, na rodovia norte, os motoqueiros
adoram é o Corujão.
— Vou sim, preciso de uns lugares legais para frequentar
agora.
— Beleza, te espero lá qualquer hora.
— Nós nos vemos então.
— Até.
— Até.
Nos despedimos na frente da escola depois que passei para
avisar na recepção que estava na turma de pole dance. Caminhei
pelas ruas como se fizesse anos que não vinha ali, o céu estava limpo,
o clima de começo de noite era muito agradável. Até que
caminhando despreocupadamente me dei conta da rua onde estava.
Exatamente no lugar onde seis meses atrás eu ouvira toda a
declaração de Damian sobre como havia brincado com minha cara e
com de Ariadne.

Olhei para o carro preto, onde o carro dele estivera naquela
noite negra, e engoli em seco. A raiva voltou mais forte com as
lembranças de suas palavras e sem perceber onde meus sentimentos
estavam me levando, o alarme do carro disparou. Só então me dei
conta de estar errando o alvo e maneando a cabeça me afastei. Minha
raiva tinha endereço certo, ao mesmo tempo que queria acabar com
ele também ainda não queria olhar para ele. Vá entender!
Puxei o celular do bolso e liguei para minha irmã, ela e
Mariana estavam num barzinho ali pelo centro e fui para lá. A
primavera estava no início e o calor ia e voltava, mas naquela noite
parecia verão. Estava quente e o céu mostrava uma ou outra estrela
ainda tímida pelo alaranjado que o crepúsculo pintava, os barzinhos
ali pelo centro estavam bem movimentados. Vi as duas numa mesa
externa e me aproximei.
— E aí gurias? O que estão tomando? - perguntei puxando
uma cadeira.
— Refrigerante de uva, dá uma celulite danada mas eu adoro.
- respondeu Mari e eu torci o nariz.
— Servida? - minha irmã perguntou ao fazer menção de servir
a bebida no copo que estava ali me esperando.
— Não, vocês sabem que eu não curto muito. - fiz um sinal e o
garçom veio como um raio – traz uma vodka com suco de laranja
para mim.
— Claro.
Ele respondeu antes de sumir para dentro do bar e fui alvo de
dois olhares estarrecidos.
— Que houve? - indaguei divertida.
— Lavígnia Durani, eu te conheço a vida toda e nunca vi você
tomar uma gota de álcool. - replicou minha irmã.
— Então já está mais que na hora de mudar isso. - falei.
— Essa é nova, estou achando que clonaram minha prima, só
pode!
— Você não viu nada, estou radicalizando. Vou fazer aulas de
pole dance. - anunciei satisfeita.
— Capaz? - Mari surpreendeu-se e minha irmã riu.
— Não acredito.
— Sim, é verdade. - parei de falar quando o garçom deixou
minha bebida na mesa – Eu cansei de parecer boazinha, além do
mais, agora a vida é nova, não é mesmo? - falei sorvendo um gole
que desceu queimando minha garganta mas era muito bom.
— Totalmente nova, estou meio confusa ainda. - disse Ágatha.
— Com o quê? - Mari perguntou.
— Com o que vou fazer durante o dia – ela riu – ainda bem
que somos ricas.
— Verdade. - Mari também riu.
— Não tem como se prender em um emprego quando há
possibilidade de viajar a qualquer momento. Lembrem-se que iremos
onde precisarem de nós. - falei.
— Isso é... meninas não vejo a hora de entrar em ação. -
Ágatha sussurrou a última palavra.
— Pelo visto não vai demorar muito, o Neit falou que talvez
semana que vem tenhamos que começar. - Mari falou com aquele ar
de cumplicidade que só nós três entendiamos.
— Pois é, o Neitan é tipo o líder, né? - provoquei – O Neit
disse, o Neit sabe, o Neit isso, o Neit aquilo. - disse rindo.
— Você gosta dele, né Mari? - Ágatha indagou e ela fechou a
cara.
— Aff, até parece que eu iria querer perder meu tempo de
forma monumental. Ele é caidão pela Lavígnia.
— Mari, você está completamente certa. Se apaixonar é perda
de tempo. - falei num tom raivoso e amargo e ambas se
entreolharam.
— Você nunca vai nos contar o que aconteceu, não é? - Ágatha
falou uma verdade.
— Não aconteceu nada. - respondi de forma seca ao beber
outro gole da bebida forte.
— Ah qual é, Lavígnia? Todos sabemos com quem você estava
e o quanto estava determinada a largar tudo por ele. Você deveria
confiar pelo menos em sua família. - Mariana argumentou e eu
ponderei um momento.
— É... todos sabem que eu quis correr um risco. Corri.
Aprendi. Finalizei. A história é essa gurias, eu quero mudar de
experiência agora, ponto final.
— E eu te apoio irmã, afinal temos uma vida que recém
começou. Um futuro cheio de aventuras e riscos, enfim uma vida
com bastante emoção.
— Uma vida incrível, um chamado sem igual.
— Então – ergui meu copo – brindemos a essa nova vida.
Elas toparam e erguemos nossos copos em um brinde de boas
vindas para uma nova vida. Não sabíamos onde iriamos parar, quem
iríamos conhecer, quem iríamos matar e também salvar. Um brinde
ao mistério.
                                                       *

7 comentários:

  1. Bom dia flor,não tem problema o importante é que está ai os maravilhosos capítulos,estou amando o livro, decepcionada com Damian mais tudo bem bola pra frente.

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    1. Está demorando mas saindo né, amore?
      O Damian vai pagar pelo que fez e muito, não se preocupe.
      Beijos.
      Ana

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