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domingo, 23 de junho de 2013

Capítulo 5 - 3ª parte


Sim, uma floresta e uma pequena clareira. Escura por ser noite e clara por ser agraciada pelo pálido brilho do luar. Eu estava parada à frente de um grupo de pessoas, não muitos. Seis homens e uma mulher. Todos usavam roupas de época, exceto os dois mais à direita que usavam sobretudos pretos e chapéu. Eles conversavam, mas eu – embora escutasse o som de suas palavras – não entendia. Alguns seguravam tochas, que ardiam em um fogo dourado que colaborava para quebrar a escuridão que fazia uma grande araucária.

Um dos homens cavava um buraco ao pé da árvore. Então a mulher aproximou a tocha e seu rosto foi iluminado, eu a reconheci. Era a mesma mulher que eu havia visto naquele primeiro sonho, em que ela estava na frente da minha cama e depois sumia. A conversa deles parecia rodar em torno do objeto que outro homem segurava, uma caixa de metal prateada.

Mais algumas palavras e o que segurava a caixa apertou a mão do outro, que parecia aborrecido ou contrariado. Então a caixa foi posta no buraco e coberta pela terra escura. Depois disso todos foram embora, dois em uma direção e o resto em outra. Eu caminhei até a frente da grande araucária e vi que em seu tronco havia um grande depressão, onde caberia provavelmente uma bola de vôlei. Olhei para a terra revolta onde antes havia sido colocada a caixa de metal. Fui até lá e me abaixei, senti a frieza da terra quando a toquei, devia ser inverno. Então, um movimento em minha cama, me despertou.

Abri os olhos, sentindo-os arder pelas horas de choro e vi Néftis – a responsável pelo movimento que havia me acordado – se acomodar no travesseiro ao meu lado. Com um profundo suspiro voltei a fechar os olhos. Estava tão cansada e de certa forma, acostumada com a estranheza de meus sonhos, que ele não me abalou como os outros. Eu estava me adaptando à estranheza que havia virado minha vida. Voltei a dormir e tive, exatamente o mesmo sonho por mais três vezes. Mas o quinto, foi mais um estranho pesadelo.



— Você viu o que eles fizeram? - uma voz infantil me perguntou.

Me virei para descobrir que estava em uma casa antiga de madeira. A única iluminação provinha da janela e portas que estavam abertas, deixando a luz do luar entrar. Quem falava comigo era uma garotinha, de seis anos no máximo. Com grandes olhos azuis e cabelos castanhos cacheados.

— Quem? - indaguei.

— Os seres das almas sombrias. - respondeu ela.

— O que eles fizeram?

— Eles mataram o papai e a mamãe. - ela disse apontando para o lado e vi em cima de uma grande mesa de madeira, o corpo de uma mulher jovem com uma mordida no pescoço. E no chão, o corpo de um homem.

— Você vai pegar eles, não vai?

A garotinha indagou numa estranha suposição. Estava claro que quem havia matado seus pais, havia sido um vampiro.

— Eu? Por quê?

— Porque você é boazinha... - respondeu com inocência – você protege, eles matam... mas você não estava aqui, por isso papai e mamãe morreram. Por que você não veio?

Ela me cobrou de uma responsabilidade irreal. Seus grandes olhos azuis brilhavam com as lágrimas e eu me senti horrível. Mas como eu ajudaria? Então eu não estava mais dentro da pequena casa. Estava sobre uma grande ponte, muito abaixo eu podia ouvir as águas de um rio correrem. Tinham muitas e muitas árvores por todo o lugar e a luz da lua cheia clareava a noite. Eu reconheci logo depois aquele lugar. Era a ponte sobre o rio das Antas, em Bom Jesus.

O vento bagunçou meus cabelos e tentei ajeitá-los, então com o canto dos olhos, vi que não estava sozinha. Me voltei vagarosamente para frente, e vi quatro pessoas. Bem, suas silhuetas ao menos, pois - estranhamente – mesmo com a luz prateada do luar, eles estavam nas sombras. Sombras essas que não poderiam existir no meio de uma ponte banhada pelo luar. Só se via perfeitamente os contornos de suas roupas e o vento soprando seus cabelos. Um, definitivamente, era uma mulher pois seus cabelos eram compridos.

Eles estavam há uns dez metros de mim, pude ver então que estavam armados. Era fácil de identificar as espadas e armas que carregavam.

— Lavígnia, finalmente você chegou. Estávamos te esperando há muito tempo. - Um deles falou e eu arfei.

— Quem são vocês? - perguntei em voz alta e um momento de silêncio se passou.

— Somos os Caçadores das almas sombrias. - a voz da garota ressonou numa resposta perturbadora.




Abri os olhos e descobri que estava suando. Sentei na cama e passei a mão na testa onde vários fios de cabelos estavam grudados. Naquele momento, eu não tive mais dúvidas. Havia um grande mistério em Bom Jesus e eu estava incondicionalmente entrelaçada com ele. Sobre minha vida pairava um grande pergunta, e eu sabia que tinha que encontrar a resposta ou não teria mais paz. O ser parte do Conselho das pessoas que sabiam sobre vampiros, não era - aparentemente – todo o sobrenatural em minha vida. Havia algo a mais. Algo tão forte que eu não podia mais fingir que não estava me puxando de todas as formas, de volta a Bom Jesus.



Olhei para o relógio digital sobre o criado mudo, e descobri que faltavam cinco minutos para as seis da manhã. Eu não conseguiria maIs dormir, disso eu tinha certeza pois meu sono havia sumido por consequência de mais um sonho estranho, perturbador e cheio de pistas sobre para onde eu deveria ir, mas não o que fazer. Resignada, empurrei o edredom e me arrastei para fora da cama diretamente para um banho quente e relaxante. Depois disso coloquei a primeira roupa que encontrei, outra vez jeans e baby look. Eu não estava mais ligando para o que pensariam em me ver vestida daquela forma.

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