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domingo, 19 de maio de 2013

Capítulo 4 - 6ª parte



— Ah, você está aí! Onde se meteu? Eu estava te esperando. - disse Juliana e eu sacudi a cabeça.

— Me esperando? Pra quê?

— Como assim pra quê? - ela revirou os olhos – hoje é quarta-feira dia de academia! Hello...

Juliana terminou a frase estalando os dedos e eu me toquei disso, na verdade eu andava me perdendo até mesmo do tempo, na data, na hora...

— Que horas são? - indaguei confusa.

— Quatro e trinta e seis. Agora vamos porque o Rodrigo quer te ver, disse que fez uma série perfeita pra você e...

A voz dela pareceu soar em outro idioma pois eu não entendi mais nada. Naquele momento só ponderava se devia ir ou não na aula, ir para casa e fica vendo fantasmas não me parecia muito atraente, então falei:

— Só vou pegar minha bolsa...

Fui para minha sala e não olhei para lado algum que não fosse a direção da minha bolsa. Eu a peguei e saí enfiando a maldita pasta de denúncias dentro dela. Eu mantinha uma troca de roupa de ginástica no meu armário na academia para o caso de esquecer de levar algum dia. Como aquele. Então fomos direto para a sinaleira. Juliana reclamava da tal viagem a Brasília que faria no dia seguinte mas eu não prestava atenção em nada, estava me sentindo aérea, fora de mim... era muito estranho.

Foi quando do nada um carro prateado investiu contra nós duas e eu cheguei a colocar minhas duas mãos no capô que havia parado a centímetros das minhas pernas.

— Saiam do meio da rua suas malucas! - gritou o motorista mal-humorado.

— Maluco é você seu idiota! Estamos na faixa de segurança e o sinal está fechado! Qual o seu problema? Comprou a carteira? - xingou Juliana mas eu não prestei mais atenção na discussão ao ler na placa do carro; Bom Jesus. Senti um arrepio gelado, não só por ter quase sido atropelada mas pelo claro sinal de que eu realmente estava encrencada em algo maior do que imaginava.

— Vá se lascar, imbecil! Eu devia te processar por isso!

Ameaçou Juliana no final de seus xingamentos e me puxou para a passarela do meio, já que eu havia congelado no lugar. Enquanto ela tagarelava com outras pessoas que haviam visto a cena e dado razão a ela, eu virei para ver o que estava escrito na placa de trás do carro que se afastava. Sem muita surpresa, li o nome de Porto Alegre nela. Aquilo serviu para me tirar mais ainda do sério. Nem sei como consegui ficar na aula depois daquela, é claro que minha distração me rendeu alguns sermões de Rodrigo, mas eu não me importei. Quando cheguei em casa mais tarde naquele dia, me senti arrependida de ter ficado duas horas malhando, pois estava me sentindo um trapo.

— Nossa... Lavígnia, você está um horror! - denunciou Mariana assim que entrei.

— Obrigada por notar. - respondi com ironia enquanto me dirigia ao sofá onde ela estava rodeada de livros.

— Você está bem? Está com uma aparência péssima. - observou ela me olhando com estranheza.

— Estou muito cansada... - murmurei me afundando no sofá ao lado dela.

— É a doida da minha mãe né? - ela indagou e eu fiz que sim – Lavígnia, acho melhor você tirar um tempo pra descansar ou vai acabar doente.

— Você acha? - perguntei achando que ela estava exagerando.

— Não acho, tenho certeza! Já se olhou no espelho hoje?

— Já... - balbuciei fechando os olhos, eu estava com tanto sono.

— Sério, dá um tempo ou você vai pirar. - aconselhou e eu suspirei.

— Vou ver...

— Hum... aiii Lavígnia - choramingou – sabia que Lídia e os outros vão embora na sexta-feira?

— Mesmo? - perguntei abrindo os olhos – mas por quê?

— Ah sei lá... puxa, vou sentir tanta falta deles. São meus melhores amigos, sabe? Quando estou com eles é estranho mas... me sinto como se estivesse com minha família. - declarou ela tristonha e eu engoli em seco, eu sentia exatamente o mesmo.

— Sério?

— Ãrrrã... estamos combinando alguma coisa pra amanhã, pra nos despedirmos, sabe? - ela fez uma pausa pra suspirar – você vem né?

— Hum... acho que não. Você sabe como odeio esses lugares onde vocês vão... danceterias, discotecas... argh! Além do mais, tenho que ir trabalhar na sexta e...

— Ah... Lavígnia! Esquece um pouco esse trabalho poxa! Isso está acabando com você não tá vendo? Você tem que se divertir também. - ralhou minha prima e eu me levantei sentindo meu corpo pesando uma tonelada.

— Se vocês irem a um lugar que não seja uma danceteria... pode ser que eu vá.

Deixei a possibilidade no ar enquanto subia as escadas.

— Tá eu vou ver... mas você tem que se despedir deles, né? Somos uma equipe!

Cobrou ela e eu ri.

— Lógico que sim...

Concordei indo para meu quarto. Joguei a bolsa na cama e peguei meu notebook, o liguei e então tirei as duas pastas que Savanah havia me dado. Era melhor acabar logo com aquilo. Então, forcei meu cérebro entorpecido pela fadiga a se concentrar na leitura. Li várias vezes e puxei meu note abrindo o word, então comecei a digitar, digitar, digitar, digitar... Era melhor me acomodar melhor. Então deitei na transversal da cama como computador na minha frente, eu piscava várias vezes para manter meus olhos abertos, pois acabava cochilando a cada três minutos. Achei que ficaria melhor se eu puxasse um travesseiro pra apoiar minha cabeça.

“ Bem melhor assim. ”

Pensei sentindo minhas pálpebras pesarem.

— Lavígnia? - ouvi meu nome e batidas – Lavígnia você está acordada?

Repetiu a voz da tia Márcia e eu senti como se tivesse sido puxada do subconsciente.

“ Hã? Tia Márcia? O que ela está fazendo aqui a essa hora? Ela já devia ter ido pra casa. ”

— O quê? - resmunguei.

— Não vai pro trabalho hoje, querida?

— Trabalho?! - repeti confusa me sentando rápido na cama e vi que as janelas estavam claras. - que horas são? - indaguei.

— São nove e meia.

Ela respondeu e então eu me dei conta de que tinha caído no sono. Um sono profundo e sem sonhos ou pesadelos. Vi que estava com as mesmas roupas do dia anterior e a tela do meu notebook estava desligada.

— Ah minha nossa! - choraminguei tentando ligá-lo mas a bateria havia acabado. E eu não tinha salvo nada do que tinha escrito, ou pelo menos não me lembrava de tê-lo feito.

Praguejando com as piores palavras que eu poderia pensar corri para o banheiro e vi minha aparência assustadora. Dormir maquiada nunca foi uma coisa boa a se fazer. Meus cílios estavam grudados pelo máscara preta, o batom – ou o que restou dele – manchando bem mais que meus lábios. Ou seja, um desastre! E eu ainda estava atrasada e tinha perdido todo meu trabalho da noite passada. Lavei meus rosto várias vezes e penteei os cabelos, fiz neles um coque simples e corri para o guarda roupas. Peguei uma calça jeans e uma babylook rosa choque, os vesti em tempo recorde assim como minhas sandálias rasteirinhas. Peguei minha bolsa e voei escada abaixo.

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