— Surpresa. - ela disse dando de ombros nada animada.
— Ágatha?! Mas... o que está fazendo aqui? - inqueri mais confusa ainda.
— Eu poderia perguntar a mesma coisa. - ela devolveu.
— Eu perguntei primeiro.
— Tô tirando umas férias que tinha pulado – respondi não muito longe da verdade – e você? - exigi e ela mordeu os lábios.
— Por que vocês não deixam pra tratar disso depois? - interrompeu meu avô e todas olhamos pra ele.
— Oras meu velho, deixe as meninas conversarem primeiro. Elas devem ter muita coisa pra contar uma pra outra. Vamos pra cozinha, fiz seu chá de maçã. - sugeriu minha vó segurando no braço dele.
— Oh... sim, sim... chá de maçã é muito bom, muito bom. - concordou ele enquanto ambos iam para a cozinha. Então sozinhas, lancei um olhar interrogativo em Ágatha.
— Você cortou o cabelo. - apontei seus cabelos lisos que quase batiam em cima do ombro. Era um corte meio Rihanna no clipe Umbrella, só que com os cabelos um pouco maiores.
— Quis mudar um pouco. - respondeu dando de ombros, o que eu estranhei.
— Você sempre adorou seus cabelos compridos. - observei e ela revirou os olhos.
— Ai Lavígnia, as pessoas mudam.
— Claro. - concordei ainda estranhando o fato e peguei minha mala.
— Quer ajuda?
— Não obrigada, não está pesada. - neguei erguendo a mala e comecei a subir as escadas.
— Sério? Mas é uma mala tão grande. - insistiu minha irmã indo atrás de mim. Realmente, a mala era grande e estava cheia até o limite, mas estranhamente, não estava pesada.
— Sério, agora vai me dizer por que está aqui? - voltei ao assunto quando empurrei a porta do meu antigo – e agora novo – quarto. Mas sua resposta foi silêncio.
Caminhei até o meio do quarto e pus a mala sobre a cama, Ágatha ficou parada na porta com os braços cruzados e o olhar distante. - Ágatha?
— Hã?
— Por que está aqui? - insisti e ela soltou um suspiro aborrecido e veio sentar-se na cama.
— Ah... é que... estava tudo muito complicado lá em Manaus. A faculdade e o estágio estavam me sobrecarregando demais... decidi dar um tempo. - falou evasiva e claro, não me convenceu muito.
— Mas é seu último ano Ágatha!
— Dane-se! Não vou me matar por isso. Tranquei a matrícula e depois eu volto.
— Hum... - murmurei abrindo a mala.
— Que estranho nós duas aqui de novo, não é? - ela observou.
— Muito mesmo - concordei – quando chegou?
— Na quarta-feira.
— Nessa quarta-feira? - estranhei outra vez.
— É sim... por quê? - devolveu.
— Decidimos vir as duas na mesma semana para o mesmo lugar, e isso largando tudo para trás. Não é muita coincidência? - indaguei vendo-a ponderar e seu olhar me perscrutou.
— Realmente... mas você não largou tudo, não é Lavígnia?
— Não sei – oscilei enquanto colocava uma pilha de roupas no lugar – talvez sim...
— Mas por quê?
— Ah... meu trabalho estava me sufocando... não aguento mais a tia Savanah. Preciso de um tempo. - respondi e um longo silêncio se fez entre nós duas enquanto eu ainda me ocupava de arrumar as coisas no lugar.
— E Mariana? - Ágatha lembrou.
— Hum... ela não entendeu muito bem. E nem gostou muito também.
— Posso imaginar... mas onde está Néftis?
— Deixei ela com Mariana, para que não se sentisse muito sozinha. Ela já estava meio deprê porque uns amigos dela que estavam em Porto Alegre e moram aqui voltaram pra casa. - contei terminando minha tarefa.
— Nossa! O que é esse fenômeno? Êxodo para Bom Jesus? - brincou Ágatha e eu estreitei os olhos.
— É verdade... - concluí meio desconfiada – coincidências... estranhas coincidências.
— Nem me fale em coisas estranhas. - sussurrou ela e eu a olhei.
— Por quê?
— Hã... não, nada, esquece. Eu estava pensando em... ir naquela sorveteria lá no centro, lembra? Aquela que sempre íamos.
— Lembro. - assenti tendo a certeza de que minha irmã tentava me despistar de alguma coisa. Mas o que era aquilo afinal? Até Ágatha tinha seus mistérios?
— Então, eles criaram uns novos sabores que devem ser ótimos. Que tal irmos até lá?
— Ah... claro. Foi pra isso mesmo que eu vim, para espairecer. - aceitei com um meio sorriso.
— Até porque você tem me contar mais sobre o tal namorado, não é? - cobrou ela com cumplicidade e eu suspirei. Já estava com saudades dele, não fazia tanto tempo assim que tínhamos nos visto pela última vez. Mas só por saber que ele estava há um oceano de distância, a vontade de vê-lo aumentava.
— Pois é... temos muito que conversar.
Falei e minha irmã sorriu antes de sairmos. Bom Jesus é uma cidade pequena, o que possibilita ir caminhando mesmo para alguns lugares, como o centro. Sendo assim, fomos andando e também aproveitei para rever os lugares que há tempos não via. Mesmo achando muito estranha a explicação dela sobre o motivo de estar ali, não insisti mais no assunto. Mas eu tinha certeza que ela tinha algum motivo muito forte para fazer Ágatha trancar a faculdade e tudo mais para voltar ao Rio Grande do Sul.
muito bom,curiosa pelo resto...posta,posta,posta...
ResponderExcluirscarllett