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segunda-feira, 15 de abril de 2013

Capítulo 4 - 1ª parte

4.Sob pressão e pesadelos

Eu usava um longo vestido preto. Era bem apertado em cima e com alças finas, a saia era solta e rodada, mas sem armação, só pano mesmo. Nos pés eu usava uma estranha espécie de botinha preta com saltos finos. Era estranho pois quem usa vestido com bota? Ou melhor, em que época? Eu estava em outro pesadelo. Dessa vez em uma floresta escura com árvores mortas e muitas folhas no chão. Algumas árvores ainda ostentavam folhas, então as outras não deveriam estar mortas, mas devia ser inverno.

A neblina espessa e esbranquiçada parecia serpentear pelos troncos das árvores. Parecia ser um fim de tarde, mas não havia sol e eu estava em uma estrada de terra batida. Eu devia estar sentindo frio, vestida daquele jeito, mas não sentia nada. Meus cabelos estavam mais lisos que o usual e caíam pelas minhas costas e braços. Eu estava completamente sozinha naquele cenário de filme de terror, bem, nem tanto. Um grasnado alto me mostrou que eu não estava tão só assim, empoleirado sobre um galho não muito alto, estava um enorme corvo preto. Seus grasnados ecoavam pela floresta vazia de forma assustadora. Então outros soaram como se respondessem ao primeiro.


Do nada, vários corvos voaram e se empoleiravam nos galhos das árvores perto de mim. Seus grasnados eram muitos e não paravam de ressonar criando um cenário muito sombrio e assustador. Eu me virava para todos os lados tentando olhar para todos, mas eram muitos e eu queria que eles parassem, pois era perturbador demais. Então o som de um tiro ecoou pela floresta, e assustou os corvos que voaram de forma desconexa, trocando de lado pela floresta e passando por mim, como se me rodeassem.

Eu tentava me abaixar e me esgueirar deles – pois passavam muito perto – e inúmeras penas negras flutuaram pelo ar. Não percebi os cavalos negros se aproximando até que estivesse de frente com eles. Gritei e cobri meu rosto com os braços, esperando ser esmagada por eles. Mas não aconteceu. Quando abri de novo meus olhos, vi uma carruagem negra com grande rodas de madeira e iluminada por lamparinas com uma luz dourada, parando a alguns metros de mim. Ela simplesmente havia atravessado meu corpo, assim como os quatro cavalos que a puxavam. Alguém pulou para fora da mesma quando pelo outro lado vi uma pequena luz que rompia a neblina e a escuridão ao se aproximar.

O primeiro homem – que aparentava ser um nobre pelas roupas que usava – parou bem na minha frente e esperou até que um jovem loiro – vestido com as mesmas roupas de época – aparecesse carregando uma lamparina e uma ultrapassada garrucha que fumegava como se tivesse sido recém disparada. Ele entregou ao homem alguns rolos de papel amarelado, como se fossem pergaminhos.

— Certifique-se de que todos os nossos saibam do conteúdo desses manuscritos. - pediu o rapaz meio ofegante.

— As criaturas estão seguindo-te? - preocupou-se o homem.

— Darei minha vida para que eles sejam destruídos, agora vá. - ordenou o jovem.

— Venha comigo.

— Impossível, as criaturas conhecem o meu cheiro e irão nos perseguir e então se acabará nossa única chance de livrar o mundo dessa maldita praga das trevas. Agora vá, homem! Vá!

— Que sejas recompensado por tua coragem, meu jovem.

O homem disse fazendo uma reverência e então voltou para a carruagem que logo sumia pela névoa. O rapaz virou-se tentou correr, mas foi impedido por alguém. Alguém muito alto e forte que vestia uma capa preta – como aquela do conde Drácula no filme Van Helsing.

— Onde eles estão?

Exigiu o desconhecido parecendo tomado de fúria. A sua voz – embora soasse num idioma estranho, que eu compreendia – me era conhecida. Dei a volta pela cena e estaquei. Era Damian. Estava diferente, os cabelos eram mais compridos e uma parte estava presa para trás.

— Jamais os pegará criatura sombria, e tua raça será destruída!

Prometeu o jovem cheio de coragem – pelo qual eu senti uma empatia sem explicação – a expressão no rosto de Damian tornou-se maléfica e seus olhos ficaram vermelhos como sangue.

— Mas não será pelas tuas mãos, maldito traidor! - Rosnou ele antes de enfiar a mão no peito do jovem e arrancar seu coração. Eu gritei.

O corpo caiu pesadamente no chão que parecia muito frio, Damian olhou para a estrada enquanto apertava o coração que se desvanecia em sangue em sua mão. Então seus olhos focaram diretamente os meus. Como se fosse o primeiro naquela cena toda que podia me ver. Eu perdi a respiração por um momento e sentindo muito medo, disparei numa corrida alucinada pela estrada.

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