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quinta-feira, 23 de maio de 2013

Capítulo 4 - 7ª parte



— Não vai nem tomar café, menina? - tia Márcia perguntou quando passei feito um raio pela sala onde ela tirava o pó.

— Não tenho tempo, tchau. - respondi rápido antes de sair.

Para minha sorte – já que estava atrasada – o trânsito estava bom e dirigindo no limite da velocidade, logo eu estava no trabalho. Entrei no primeiro elevador que vi na minha frente e torci para que não encontrasse meu chefe ou Savanah pelo caminho. Infelizmente, encontrei coisa pior quando cheguei ao quarto andar. Sabrina.

— Nossa – ela ergueu as sobrancelhas finas quando me viu – nunca tinha visto você se atrasar, Lavígnia. Você está péssima, o que houve? - Ela destilou seu veneno e Juliana fez uma careta a imitando atrás dela.

— Eu estava cuidando da minha vida, Sabrina. Por isso me atrasei. - alfinetei e Juliana riu.

Sabrina fez uma cara de quem não gostou e saiu pisando forte no chão até o elevador.

— Só não desejo que esse avião caia porque você vai estar nele. - cochichei para minha amiga assim que ela passou por mim.

— Eu agradeço... até amanhã. - disse ela com desânimo e eu não a culpava pois passar horas num avião na companhia de Sabrina Di Souza era um castigo pra qualquer um.

— Boa viagem. - desejei.

— Jura? - ironizou ela correndo para o elevador.

Eu ri e maneando a cabeça fui para minha sala, mas fui interceptada no meio do caminho por uma figura que parecia capo da máfia pois quase não aparecia e quando dava as caras não era pra boa coisa.

— Lavígnia – Ronaldo Miller, mais conhecido como o chefe me chamou parecendo aborrecido.

— Sim, senhor Miller. - respondi me preparando para escutar o que não queria.

— Não estou satisfeito com seu desempenho no setor administrativo, tem trabalho de dias acumulando em sua mesa e são coisas que temos que resolver rápido por aqui. Sei que você é neta do governador, mas não foi por isso que eu a contratei. Você era mais responsável antes, talvez agora esteja acostumada com a proteção do seu avô e por isso está sendo descuidada com suas funções. Mas eu ainda sou o chefe aqui e posso muito bem dar o seu cargo para alguém mais responsável e colocá-la como assistente. - disse ele me dando um sermão mal-humorado.

— Eu sinto muito, tive outras coisas para resolver essa semana, mas prometo que irei terminar tudo hoje. - justifiquei com vontade de chorar.

— Se tem tantas outras responsabilidades assim, talvez devesse reconsiderar sua carreira e escolher algo mais confortável pra você. - ralhou ele daquele jeito que só os chefes tem e um que não tinha medo de enfrentar meu avô, não que eu fosse me valer disso – tem um monte de pastas na sua mesa e quero todas elas resolvidas e prontas até as quatro horas de hoje, você entendeu?

— Sim, eu entendi. - concordei e ele virou as costas sumindo pelo corredor em seu terno preto. Fechei os olhos e respirei fundo, com resignação fui para minha sala. O dia foi estafante, infernal na verdade. Outra vez dispensei meu almoço e fiquei totalmente focada em tudo que não consegui resolver por causa das loucuras da minha tia. Pensei que não conseguiria, mas às quatro horas eu estava com tudo pronto. Fechei as pastas e imprimi o que tinha feito e me arrastei até a sala de Ronaldo - idiota – e entreguei tudo. Ele ficou bem satisfeito mas não dei a mínima para seus elogios e fui saindo sem nem me despedir.

Quando cheguei no estacionamento, realmente cheguei a pensar na hipótese de chamar um táxi pois me sentia incapaz de dirigir. Estava cansada demais, mesmo tendo conseguido dormir a noite toda. Eu estava acabada, literalmente acabada. Mas deixar meu carro ali não era muito favorável já que teria que ir de táxi para o trabalho no outro dia. Sendo assim, fiz um esforço para dirigir até em casa.

Assim que saí do carro – já na frente da garagem – ouvi vozes e soube que eram os irmãos... Sejam lá qual fosse o sobrenome deles. Só então me dei conta de que não sabia o sobrenome de Neitan, Léo e Lídia. Quando abri a porta vi Léo e Mariana jogando Tênis virtual no telão de 42 polegadas da sala. Tinha um videogame super moderno ligado à tela e a mesinha de centro tinha sido arrastada para um canto. Enquanto eles interagiam com a tela, Neitan e Lídia assistiam o jogo.

— Olá. - falei, entrando e um coro soou em resposta.

— Oi...

— E aí? - Léo foi o único a responder de outra forma. Senti os olhos de Neitan em mim no caminho todo até a escadas.

— Não quer jogar com a gente? - ouvi ele perguntar e me virei.

— Hum... não, tenho umas coisas pra resolver.

— Sempre ocupada. - rebateu ele e eu dei de ombros como resposta.

Subi afundando os pés nos degraus da escada. Meu corpo estava pesado. Quando cheguei em meu quarto senti vontade de me atirar na cama e dormir a noite toda, mas precisava ver se meu trabalho da noite anterior tinha se perdido totalmente. Depois de atirar a bolsa na cama, pus meu notebook pra carregar e fui atrás dos meus chinelos. Assim que ele ligou já corri para procurar meu trabalho. Para minha sorte somente a parte final não havia sido salva, mas eu conseguiria lembrar de quase tudo.

Voltei a digitar e tive um pouco mais de trabalho do que tinha imaginado, mas consegui e depois de salvar tudo, passei pro pen drive e coloquei para imprimir no descktop. Estava arrumando as folhas numa pasta quando ouvi a gritaria de Mariana:

— Lavígnia!... Lavígnia... Lavígniaaaaaaaaaa!

— Ai, já vou! - gritei enquanto deixava a pasta na mesa do computador. Quando desci, encontrei Lídia e Mariana na porta. - que foi?

— Vamos ali no parque Tupã, vem com a gente. - convidou Lídia com um sorriso enorme.

— É, vai ser tri legal. Vamos Lavígnia? - Mariana engatou.

— Obrigada meninas, mas vou passar essa.

— Ah... por quê? - quis saber Lídia e eu suspirei.

— Quero descansar um pouco... tive um dia bem estressante hoje. - e como!

— Affs... a Lavígnia não gosta de se divertir. - minha prima falou revirando os olhos.

— Não... é sério, estou muito cansada mas divirtam-se por mim. - as encorajei.

— Hum... tá bom, até mais.

— Até... - me despedi fechando a porta.

Fui até o sofá e pegando o controle remoto, liguei a tevê. Coloquei no canal de filmes e encontrei Piratas do Caribe 4 – Navegando em Águas Misteriosas, bem no começo. Ficar em casa assistindo um filme era bem mais tranquilo do que andar numa montanha russa no parque e bem menos cansativo. Deitei no sofá e peguei uma almofada apara usar como travesseiro, eu estava com tanto sono que não consegui ficar acordada nem até a metade do filme, caí no sono.


De repente eu estava em uma casa antiga e simples. Com velas sobre garrafas iluminando o ambiente. Tudo estava silencioso, mas tinha um certo suspense flutuando no ar. Varri o lugar com um olhar rápido e procurei por uma saída. Porém, ao dar um passo, tropecei em algo e quando olhei para baixo, gritei. Era um corpo. Um homem com a garganta dilacerada. Cobri os lábios com a mão para evitar outro grito, quando vi uma mulher e duas crianças também mortas. Havia gotas de sangue pelo chão e o drama da morte era tão real que eu o podia sentir em minha pele. Uma família havia sido dizimada ali.

Corri quase arrebentando a fina porta de madeira. Acabei indo parar numa rua de terra escura, com muitas pegadas e marcas de ferraduras. Montinhos esbranquiçados ladeando a rua mostravam-me que onde quer eu eu estivesse, lá caía neve. Os casarões grandes de madeira em vários tons de cinza, remetiam a outra época há muito esquecida. O céu também era cinza, e exibia nuvens pesadas que impediam que um único raio de sol passasse. Foi então que – como se houvesse dado play num filme em pausa – pude ouvir gritos se aproximando e me virei. Vi pessoas correndo. Homens, mulheres, crianças e velhos, todos com roupas antigas e simples.

Era muitas pessoas. E gritavam umas paras as outras num idioma que eu não conseguia reconhecer.

— O que está acontecendo? - perguntei a uma jovem que passava, mas ela me ignorou como se não tivesse me visto ali.

Então erguendo os olhos para o fim daquele rua escura e gelada, vi o motivo do desespero deles. Vindos da direção de uma floresta morta, quatro seres de preto caminhavam um ao lado do outros. Tinham uma postura de arrogância, como se mandassem por ali. Por meio do medo, eu notei. As pessoas corriam umas para a floresta outras se trancavam em suas casas. Pude sentir o medo delas ao mirar o rosto maligno dos quatro seres estranhos, e assim como elas, corri. Porém a imagem de uma jovem com duas crianças, paralisadas numa varanda me fez parar.

— Entrem na casa! - gritei – Escondam-se, rápido!

Avisei mesmo sabendo que não podiam me ouvir. Ela e as crianças correram e se refugiaram na casa, e de repente, eu estava lá dentro também. Vi quando a garota empurrou uma mesa de madeira que parecia ser bem pesada até a porta, e logo depois, correu para junto das crianças. Os três abraçaram-se em frente à uma lareira de pedra onde não havia fogo. Ela parecia orientar os pequenos que não fizessem barulho e seus olhos fugavam para a porta assim como os meus. Foi então que a porta veio abaixo com um estrondo de ferir os ouvidos. A mesa se quebrou e seus pedaços se espalharam pela casa.

Dois deles entraram. Um homem e uma mulher. Era estranho como seus rostos pareciam meio borrados, eu não podia vê-los com clareza. O homem marchou até os três e arrancou a garota dos braços das crianças.

— Não a mate! - eu gritei só então me dando conta do que aquelas coisas eram, vampiros – Deixe-os em paz seus malditos! Não.

Me desesperei sentindo lágrimas queimarem meus olhos. Então ele a mordeu sob o choro constante das crianças. A jovem gritava e debatia-se nas garras daquele monstro, então o sangue desceu por seu pescoço e manchou seu manto branco.

— Não...

Chorei enquanto via a morte da garota sem conseguir fazer nada para ajudar, eles não me viam, não me ouviam. Eu realmente não estava ali. Depois de minutos horrorizantes e sem fim, o maldito atirou a garota para a mulher, que também a mordeu. Porém ela, já não esboçava reação alguma. Estava morta. Então o maldito assassino olhou na direção das crianças que choravam muito e abraçavam-se.

— Não, não, não as crianças não! Por favor não! Ah meu Deus...

Me desesperei vendo-o marchar em direção a elas. Então puxou uma delas, um garotinho que não devia ter mais que seis anos e o levantou no ar. Com urgência, comecei a procurar algo pelo chão, qualquer coisa que me ajudasse a salvar o menino. Encontrei uma lasca grossa de madeira que havia se formado com a destruição da morta. As lendas dizem que uma estaca de madeira no coração imobiliza um vampiro. Então me atirei sobre o maldito, disposta a matar ou morrer. Porém, foi como se eu tivesse atingido uma parede. Eu não conseguia me aproximar, como se entre nós houvesse uma barreira invisível, uma parede de vidro.

— Ah meu Deus! - gritei com horror tentando chegar neles – largue-o! É só uma criancinha! Não – eu gritava, chorava e batia com força contra a tal barreira e vi o vampiro morder o delicado pescoço do garotinho que chorava muito – Nãaaaaaaaaao! Por favor, pare! Não o mate! Não!

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