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sábado, 2 de fevereiro de 2013

Capíulo 1 - 2ª parte

— Espíritos? - Repeti enquanto tirava uma foto da marca estranha.

— Sim, se parecem com gente, mas são monstros que roubam almas. - Explicou ela com uma expressão de medo. O que era de se esperar, já que não passava de uma criança.

— Hã... roubam almas? - Repeti achando que aquilo era até meio... bobo. 



— Sim, eles saem durante a noite e vagam pela floresta e se acham alguém, roubam a alma deles.

— E como roubam?

— Sugando o sangue. - Respondeu ela e eu quase deixei minha câmera cair dentro da água.

— Então, eles só saem à noite e sugam o sangue das pessoas? - Perguntei pra ter certeza do que tinha ouvido. Jaci fez que sim e eu senti um frio percorrer meu corpo. - E... é assim que vocês os chamam? - Sondei já fazendo minhas convicções. Uma palavra que começava com a letra V. 


— Cupendipe-Carapanã. - Respondeu ela e eu a fitei com surpresa.

— Como?

— O que está fazendo aqui, Jaci? - Um rapaz apareceu do nada e nos interrompeu.

— Estou mostrando a ela a cascata e contando sobre o Cupendipe-Carapanã.

Respondeu ela e o rapaz fez uma cara estranha.

— Sabe que não deve falar dessas coisas Jaci, atrai má sorte.

— Mas ela viu a marca na árvore. - A garotinha apontou e o rapaz olhou imediatamente para o outro lado.

— Qual o problema? - Perguntei o encarando - Acreditam mesmo nessas histórias?

— Não são histórias moça, é verdade.

— Mas então, o que são essas coisas?

— Cupendipe-Carapanã - ajudou-me ele - Bem, a lenda conta que há muito tempo havia uma espécie de índios que tinham asas de morcego e que atacavam as pessoas com machados. Então durante o dia os Apinajés, reunindo os guerreiros de dez aldeias, foram atacá-los. Taparam as cavernas com palha seca e colocaram fogo. - o rapaz que devia ser irmão de Jaci contava lançando olhares furtivos para a floresta do outro lado - Mas alguns deles conseguiram escapar e feridos, fugiram para a floresta. Foi então que encontraram alguns feiticeiros que os ajudaram e curaram suas feridas. Mas, em troca da sua bondade, os Cupendipes mataram os feiticeiros. Porém, antes de morrer um deles lançou uma maldição, eles perderiam suas asas e viveriam para sempre contanto que bebessem o sangue dos outros. Por isso, chamamos de Carapanã, que quer dizer sugadores de sangue.

Relatou ele me deixando sem reação por alguns segundos. Vampiros ali? Então eles existiam por toda parte?

— Lavígnia! Oh, você está aí - Ágatha apareceu na trilha - Vamos, nosso barco está pra sair.

— Hã... - pigarreei - Claro, vamos. - Olhei de soslaio para meus dois acompanhantes.

— Por que veio aqui? Não sabe que devia ficar por perto? - Minha irmã me repreendeu. Revirei os olhos, era só o que me faltava.

— Como assim? Sou turista aqui e quero conhecer os lugares.

— Ah, e falando em conhecer, tenho uma surpresa. - Ela anunciou assim que chegamos no píer. Acenei para Jaci antes de entrar no barco que nos levaria de volta a Manaus.

— E o que é? - Perguntei.

— Comprei ingressos para um musical que vai estrear no teatro hoje! - Ágatha disse enquanto sentava-se ao meu lado.

— Mesmo? Isso é o máximo, você sabe o quanto eu quero conhecer o teatro Amazonas. - Falei animada.

— Sim, eu sei. Comprei os ingressos há semanas. O musical está disputadíssimo.

— E qual é? - Perguntei enquanto tirava fotos das margens do rio Negro. Era tudo tão lindo, mais incrível do que eu imaginava ou via nas fotos. As milhares de árvores, formavam uma parede verde dos dois lados. E havia muitos pássaros de várias cores voando por todos os lugares.

— Hum... um que eu sei que você adora.

— Ai Ágatha, não faça mais suspense. Qual é? - Pressionei.

— O Fantasma da Ópera. - Anunciou ela e eu abri a boca.

— O quê? Não, isso não é possível! - Duvidei, ela torceu o nariz e empurrou seus óculos de sol.

— Eu não falo mentiras!

— Ah, isso é incrível Ágatha! Obrigada.

— Viu? Eu disse que você ia amar vir aqui. Pena que já tenha que ir embora amanhã. - Lamentou ela ignorando os olhares insinuantes de um rapaz do grupo em nosso barco.

— Você sabe que tenho que trabalhar na segunda, e a viagem até Porto Alegre leva sete horas. - Lembrei-a.

— Ai Lavígnia, porque você não falta um dia? Sabe que aquele emprego é seu! Mesmo que falte quatro dias por semana, o vô jamais permitiria que você fosse demitida. - Ágatha falou sabendo que aquela história de proteção e nepotismo, me irritava até a alma.

— Quero ficar no emprego não porque sou neta do governador, mas por meu trabalho Ágatha, e você sabe disso. - Esbravejei e ela deu de ombros num gesto de indiferença.

— Nossa, você leva tudo muito a sério. Tem que parar com isso, você tem vinte e quatro anos Lavígnia e não quarenta! - Ela disse e eu revirei os olhos, de novo aquela história dos quarenta?! Mas que coisa!

— Vou fingir que não ouvi isso. - Tentei ignorar a observação ridícula dela.

— Quer que eu repita? - Provocou minha irmã.

— Ah, fique quieta Ágatha. - Repreendi e ela riu.

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